Amor e prazer

O que é o tempo afinal?

São segundos que passam e não voltam, saudades que não matamos, necessidade de papo furado, de vãs filosofias até a manhã nascer.

Aquele pão na chapa durante o fim de madrugada, aquele café amargo, mas que com a companhia fica doce.

O suco de limão sem açúcar e gelo, que já está quebrado desde o meio da madrugada.

Uma saudade de longa data, um veneno que corre em minhas veias feitas de doces memórias.

Aquelas camas que rangiam, contando segredos mentirosos, falcatruas reais em meio a ilusões de amores passados.

Os incontáveis motéis onde passamos, noites em claro passeando de cama em cama, batendo de porta em porta tentando ter um pouco de prazer.

As suas pernas bambas, meus joelhos acabados, minhas costas arranhadas e sua cara toda estapeada, os nossos amores eram doídos, mas ainda assim eram amores.

Tempos passados de paixões que machucavam, loucuras que nos gritavam, batendo de porta em porta nos oferecendo para o pronto prazer.

E ficávamos naquela simples padaria nos relembrando de como tínhamos que nos conhecer.

Pedíamos um ou dois cafés, amargos junto com o suco, o pão quente e macio, deixando cair uma gota de óleo que usávamos para nosso bel prazer.

Éramos amor e ódio, saudade e sufocamento, nos amávamos e nos odiávamos, mas ainda assim...

Ainda assim corríamos em motéis de quinta até a primeira categoria, enxergávamos através das fechaduras alheias o prazer que nunca nos encontrava, fazíamos de tudo, do programa a propaganda, mas o nosso amor nunca foi encontrado fora de nossa cama.

Ficávamos na saudade de um prazer que só encontramos na primeira vez, nos amamos tanto que usamos até nossa última gota de vida, de amor, de prazer e dor.

Gastamos tudo, da ternura a tortura, e agora só nos sobrou essa bendita amargura.

Nos procurávamos sem nos encontrar, e quando nos encontrávamos, lutávamos, brincando de gato e rato debaixo de lençóis angustiados, ficávamos nos relembrando deste amor mal fadado.

Tudo que eu e você procurávamos era o prazer sem compromisso, quando acabamos no fim, éramos dois seres em uníssono.

E agora sentamos aqui, esperando o café sair, o pão esquentar e a manteiga esfriar...

Tentando imaginar, o que seria de nós, se nunca mais soubéssemos o que é esse amar...

Minari
Enviado por Minari em 10/04/2014
Reeditado em 10/04/2014
Código do texto: T4763757
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.