De um coração não tão dócil, mas real
"E então, Matheus, o que você pode fazer?". Por vezes, eu mesmo repetia isso a mim. A resposta era sempre igual. Não sei ao certo quantas das vezes eu ouvi : " o que você pode fazer?" Nada. Sempre 'nada'. Nunca foi do meu alcance fazer algo que pudesse mudar o sentido destrutivo das coisas. Posso seguir, mas seguir não é uma opção, é uma obrigação. Sigo. Vivo por que sou uma recombinação constante de átomos: carbono, nitrogênio, oxigênio, desgosto... Sou uma molécula inoculada, um parasita obrigatório de uma sociedade asquerosa em clímax; e sou, não por que quero, mas por que sou obrigado a aceitar. "e então, Matheus, o que você pode fazer?". Mesmo que pudesse, não faria. Não faço, nunca fiz, e muito provavelmente não farei. O tempo dá certas possibilidades de mudança; não mudei enquanto era tempo, e agora, resta-me fugir. Fugir de todo um processo significante para essa conclave social estabelecida por semi-deuses -intocados e perfeitamente irreais- que me cercam. Me cegam a possibilidade de ser um semi-deus tão bom, ou melhor, que todos eles juntos. Sou tão inutilmente humano quanto eles. Represento, muito bem, toda a irrelevância da ciência humana. ah, me cansam a memoria os que me usam de cobaia social. Não sou louco. Já disse que não sou louco. Não me tenham como louco. Sou incompreendido, ouviram bem? Incompreendido. E assim, deixem-me. Esqueçam-me. Ignorem-me. Vivam tuas vidas sem mim, que eu viverei a minha sozinho, e não terei que guardar rancores, agradece-los por nada, e poderei ser o que sou, mesmo que não saiba o que posso ser