Do meu mais profundo Eu
Muitos me perguntam se está tudo bem. “Você não é mais o mesmo.” Não, sou sim, mas agora eu mostro minha verdadeira face. Não parece um monstro, por fora, mas por dentro, há todo um asco pela humanidade do qual não consigo livrar-me... Há toda uma raiva, toda uma incerteza que me fazem tirar dos sonhos qualquer resto de esperança. Sou uma oficina podre de sonhos mal formados... Uma pintura pobre de um pintor sem tintas. Sou os fins que não justificam meio nenhum. Aliás, nem mesmo há mais de um final e este é a morte. A morte a por dores nas articulações, desesperos nos atrasados, alegria nos inimigos e boas lembranças ao de cujus.
Ah, aos que me dizem que a morte salva, não salva. Nem mesmo passa perto. E eu me canso dela. Me canso deles. Me canso de mim. Nem eu me entendo, querida. Nem eu me entendo. Busco todo um misticismo chulo que bota em cheque toda uma realidade fiel àquela dos contos de fadas.
Mas coma. Coma um pouco desse teu macarrão instantâneo caprichado em sódio. Coma por que não há meio, nesse mundo, que não te leve a crer no instantâneo. Eu sou inopino como um pensamento.
A raça é suja. O coração é naturalmente mal. O sangue apodrece as veias que apodrecem os órgãos que apodrecem os homens. Mas não pense que o erro está no sangue. Se não o sangue, haveria outro que o fizesse. Jaz aqui as esperanças de que hajam mudanças. Nada tem mudado pra mim, nem pra ti, como haveria de ser.
De estação em estação, eu perco minh'alma, mas não sei pra quem. As almas de outrem em mim também se instalam - ou tentam. Chore, pequena, chore. Só chorando é que se limpa a alma.