Liberdade perdida

Perdi a liberdade, não me sinto livre em casa, não posso sair dirigindo de madrugada quando quero ficar sozinha, não posso caminhar durante o dia sem ser perturbada, nem posso andar a noite, pois é perigoso. O que eu posso fazer para conseguir minutos de liberdade então? Sair descalço, de pijama, sem documento, sem dinheiro, apenas com o celular nas mãos. Sim, foi o que eu fiz, sem pensar duas vezes, mesmo com o vento estando um pouco gelado e eu sem agasalho, mesmo sendo meia noite, mesmo estando tudo escuro, mesmo sem saber para onde ir, eu andei o mais rápido que eu pude, queria apenas sair de perto de você, queria não mais avistar sua presença assombrosa, queria me afastar de você, para que isso talvez pudesse me afastar do que eu sinto. Quis correr bem rápido, quis gritar, quis sentar no chão e chorar até não ter mais nada apertando meu peito, mas tive um segundo de lucidez e me lembrei que estava de pijama, que era noite, que eu estava descalço, que eu estava em meu bairro e não queria que ninguém me visse daquele jeito. Dei uma volta completa no quarteirão e quando cheguei em frente de casa, não quis entrar, não queria te encontrar e me defrontar com todo o sofrimento que estava presente. Relutei, pensei que seria bom ter um refúgio, um lugar para onde ir e ficar por dias, sem ter que voltar, mas entrei pelo portão e mais uma vez tive a liberdade roubada.

Rafaela Andrade
Enviado por Rafaela Andrade em 07/12/2013
Reeditado em 11/12/2013
Código do texto: T4602053
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