Cacos sangrantes

Me olho no espelho, e me deparo com aquelas mil facetas que tenho. Todas diferentes uma das outras mas juntas refletem aquela minha única face.

Muitas facetas eu ainda não conheço, outras eu convivo a vida toda.

O problema é esse meu egocentrismo. Se colocar na posição, no lugar dos outros. Por mais que eu ame a todas as pessoas que me fazem bem, eu insisto a mostrar uma faceta que os decepcionam.

Essa decepção reflete em mim com enorme força, e aquela face já muda, fica abatida, tristonha, pensativa. Tento segurar, explicar os porquês... mas nem eu mesmo sei. De nada adianta, não dá pra volta atrás.

Além de perder a consciência, eu perco a confiança. A confiança é um pequeno e frágil recipiente. Seus cacos são cortantes, e não permitem uma rápida hemostasia, nos mantêm em hemorragia por horas, dias, anos, às vezes por toda a vida.

Esses recipientes são criados uma vez só, não há nenhum tipo de garantia. O artesão desses recipientes, na verdade, são dois. As duas pessoas que se relacionam.

São tantos cacos que ainda piso, por tantos motivos, tantas situações. E chorar nunca adianta, aliás piora, faz doer mais quando tocam os ferimentos.

Se esses cacos ferissem só a quem os fez seria aceitável, mas na verdade, você é o que menos se fere, você fere a quem você ama, o co-artesão dessa obra-prima.

E ao ver o sangue escorrer pelos seus dedos, braços e pernas. Tudo consequência de um ato impensado, te faz sofrer mais, e com razão.

Existem tantos e tantos outros recipientes para quebrar, infinitos. Mas o que eu procuro, a cada dia, por mais que pareça ser uma heresia, é cuidar com todo zelo deles, da confiança.

Mantendo-os intactos, intocáveis. Não só para eu não me ferir, mas pra quem os cria comigo.

Aquele sangue que escorre, e chega a pingar o chão, me envenena. E só aí eu noto o quão eu preciso evoluir mentalmente, e pensar mais nessas pessoas que amo, para não ter o desprazer de os ver sangrar, por atos tão cretinos, impensados, ingênuos que fazem um grande e irreversível estrago.

Domingos de Morais
Enviado por Domingos de Morais em 20/10/2013
Código do texto: T4534069
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.