Cacos sangrantes
Me olho no espelho, e me deparo com aquelas mil facetas que tenho. Todas diferentes uma das outras mas juntas refletem aquela minha única face.
Muitas facetas eu ainda não conheço, outras eu convivo a vida toda.
O problema é esse meu egocentrismo. Se colocar na posição, no lugar dos outros. Por mais que eu ame a todas as pessoas que me fazem bem, eu insisto a mostrar uma faceta que os decepcionam.
Essa decepção reflete em mim com enorme força, e aquela face já muda, fica abatida, tristonha, pensativa. Tento segurar, explicar os porquês... mas nem eu mesmo sei. De nada adianta, não dá pra volta atrás.
Além de perder a consciência, eu perco a confiança. A confiança é um pequeno e frágil recipiente. Seus cacos são cortantes, e não permitem uma rápida hemostasia, nos mantêm em hemorragia por horas, dias, anos, às vezes por toda a vida.
Esses recipientes são criados uma vez só, não há nenhum tipo de garantia. O artesão desses recipientes, na verdade, são dois. As duas pessoas que se relacionam.
São tantos cacos que ainda piso, por tantos motivos, tantas situações. E chorar nunca adianta, aliás piora, faz doer mais quando tocam os ferimentos.
Se esses cacos ferissem só a quem os fez seria aceitável, mas na verdade, você é o que menos se fere, você fere a quem você ama, o co-artesão dessa obra-prima.
E ao ver o sangue escorrer pelos seus dedos, braços e pernas. Tudo consequência de um ato impensado, te faz sofrer mais, e com razão.
Existem tantos e tantos outros recipientes para quebrar, infinitos. Mas o que eu procuro, a cada dia, por mais que pareça ser uma heresia, é cuidar com todo zelo deles, da confiança.
Mantendo-os intactos, intocáveis. Não só para eu não me ferir, mas pra quem os cria comigo.
Aquele sangue que escorre, e chega a pingar o chão, me envenena. E só aí eu noto o quão eu preciso evoluir mentalmente, e pensar mais nessas pessoas que amo, para não ter o desprazer de os ver sangrar, por atos tão cretinos, impensados, ingênuos que fazem um grande e irreversível estrago.