Viagem ao Paraíso
O mundo ficou tão diferente depois de uma grande perda. As ruas estão vazias e totalmente destruídas! Dentro de mim, há um aperto medonho devido às tristes circunstâncias, que se transformaram em gigantescas bolas de neve por esses dias. E esses poucos dias que se passaram, tornaram-se fardos cruéis sobre o meu corpo, a minha desolada consciência.
O que de fato machuca, é a ausência prolongada nos dias e noites que realmente valiam. Nos dias quentes de verão à beira do lindo rio. Na subida matinal daquele extenso e escorregadio morro, com você bem à frente rodeado dos velhos cães. O que realmente valia, era quando adentrávamos a mata em noite de Lua cheia, na busca incessante dos pequenos mamíferos, peixes e crustáceos.
Me lembro como se fosse ontem, de sua expressão feliz ao me ver descendo o morrinho de sua casa, e o entusiasmo ao me levantar pelos braços. São tantas cenas que me passam em mente! Em uma das mais recentes: estou vendo-o sentado sem camisa na porta da sala de vovó Amélia, assistindo a imperdível novela das duas. Quanta saudade das vezes que subíamos a serra do outro lado do rio, e enchíamos os sacos de mandiocas.E lá embaixo, descascávamos-as quase a tarde toda. Depois você se incumbia de fabricar a preciosa e necessária farinha.
Isso tudo eu vivi na minha infância e adolescência, e cada segundo desse contexto ainda permanece vívido em minha memória. Mas a ausência nesses anos duradouros, impediu-me de mostrar o quão importante foi essa estória junto de você. Me impediu de ao menos olhar em seus expressivos olhos claros, e trocar palavras sinceras e cordiais, mesmo que fossem em poucas quantidades. Me impediu de abraçá-lo fortemente pra mostrar o quanto te admirava, o quanto te amava.
Agora tio, o tempo passa da mesma forma que passava quando sua matéria vivia presente, mas na vida de muitos, há um sepultamento interno que a cada dia se renova... O rio, aquele grandioso e familiar rio, já não é mais o mesmo sem a sua presença, sem a sua estadia em cima da pedra... As estradas que levavam pessoas a lugares felizes, a lugares concisos, agora transportam seres opacos, seres que demoram eternidades pra se chegar ao destino, e quando chegam: há somente cinzas espalhadas pelo chão, cantos escuros e dores absurdas pela terrível perda...
Não acredito em paraíso ou inferno, em almas que perambulam perdidas pelas ruas. Em nada que foge ao realismo, aos fatos coerentes e lógicos. Mas pra ressuscitar a minha esperança, pra dar vida aos meus entendimentos, e habitar um pouco esses mundos surreais e até ingênuos; acreditarei piamente que habitas nesse momento, um lindo recanto cercado por bosques floridos, por lagos límpidos, e morros com pastos esverdeantes! Acreditarei piamente tio, que estás nesse momento: deitado à beira de algum lago, fumando seu tradicional sabiá, assando uma deliciosa traíra e tomando aquela velha caninha.
Alexsandro Menegueli Ferreira