Gosto Mais de Gatos Do Que De Gente.
Além de ser uma confissão , esta tem sido a mais pura verdade. Sempre gostei mais da ´´ solidão´´ do que da companhia de alguém. É mais fácil preferir os bichos. Para eles nada mais importa do que saciar a própria fome, isso já basta. Talvez, até um pouco de carinho e conforto quando conseguem, mas nenhum sonho que seja complicado de realizá-lo, como costumamos ter. É mais ou menos aquele filme Marley e Eu, ´´os animais não se importam se o dono é rico ou pobre, branco ou negro, simplesmente os amam´´.
Nunca entendi o porquê da maioria das canções românticas atuais terem prezado a felicidade baseada numa relação amorosa. Será que o ser humano só será feliz se estiver na companhia de uma pessoa amada? Ou quando casar e ter filhos? Isso bastaria para se sentir uma pessoa realizada, no presente e no futuro? Será que encontrar a pessoa certa é a única coisa que nos importa durante toda a nossa vida? Talvez isso seja o mais importante quando ainda não alcançamos os nossos maiores sonhos, na pré- adolescência, quando tudo parece ser lindo e belo e não descobrimos ainda as desilusões. Mas, não na vida adulta.
Parece clichê, mas não dá pra amar o outro sem amar a si mesmo, e muito menos sem estar feliz sozinho. Por isso é tão difícil encarar a vida depois de uma separação. Pelo menos, é o que se pode perceber em volta. Não vejo nenhuma mulher que não tenha se sentido culpada depois de um relacionamento a dois. No mínimo, sempre acabam pensando onde esteve o erro, o que poderiam ter feito para impedir o ´´ fim´´. Passam a se sentir menos atraentes e com pouca auto- estima. Sem confiança em si mesmo não dá pra redescobrir os prazeres de ser solteiro novamente.
Tenho visto que um dos maiores erros do homem, pelo menos maioria deles, é querer acreditar que a companhia para a mulher já é suficiente para fazê-la feliz. E nem tampouco somente a beleza é suficiente para querer embarcar em um relacionamento. E preste bem atenção: a beleza para a mulher é tão importante quanto para o homem, mas não basta para ter um convívio que perdure por muito tempo. Como dizia os Smiths ´´é preciso ter culhões para ser gentil e carinhoso´´, e a gentileza, bem sabemos que tem sido uma qualidade para poucos, num mundo em que desejar bom dia virou quase uma raridade.
Lembro da própria repercussão da Angelina Jolie ao retirar um dos seios para tentar evitar o câncer no futuro. E principalmente de uma entrevista em que o próprio marido, Brad Pitt , ao falar sobre o estado em que se encontrava a sua esposa, que segundo ele, havia emagrecido 13 quilos e se sentia cansada grande parte do tempo. Até descobrir o que lhe traria a mesma segurança de volta, com presentes e mimos todos os dias. O que pensei no momento foi a seguinte reflexão: isso aconteceu com a mulher mais linda e desejada por tudo o mundo, mas e com alguém que não teria muito para oferecer? Tipo, uma mulher pouco atraente, vivendo num bairro qualquer, com filhos ainda pequenos e um marido dado para bebidas que pouco ou quase não lhe dá atenção? Será que essa mulher, representante de várias, que sofrem por uma vaga num hospital público, se recuperaria enfrentando o problema e seguindo em frente da mesma forma que a Angelina Jolie?
Mas, antes que perca o raciocínio e eu esteja andando em círculos tentando explicar o óbvio, é que por mais que a gente busque a felicidade no outro, haverá sempre algo para ser desejado. Se estamos sozinhos, lamentamos por não encontrar a pessoa ideal; Se não estamos, lamentamos por não ter feito o que sempre queríamos enquanto sós. Há sempre algo pra reclamar - como costumo dizer quando escrevo. Ou seja, na vida sempre haverá um obstáculo a ser alcançado e nem sempre vamos ter as mesmas pessoas por perto. Haverá sempre desencontros e encontros inesperados. Vivemos num mundo em que depositar os nossos sonhos no outro passa a ser quase como um suicídio.
Como dizia uma canção do Tom Jobim, ´´ ninguém é feliz sozinho´´, mas não significa que esse alguém tenha que ser necessariamente um par romântico. Ou melhor, nem necessariamente tenha que ser alguém, pois já dizia por aí também que quem tem um livro por perto nunca se sente sozinho. Do mesmo jeito, ter a ´´ felicidade ´´ por perto nem sempre significa que essa ´´ felicidade´´ seja mesmo uma pessoa.