Madrugada 21-22
Está frio. Pus um lençol em minhas pernas, mas continua frio. Normalmente as madrugadas são frias. Creio que sejam, afinal não costumo presenciar muitas delas. Eu jogo poker pela internet, claro, esta não fora a minha primeira opção. Merda, merda de insônia. Tantos dias para ter insônia, justo na noite em que todos foram dormir?
Estou caindo de sono. Sim, o que não me falta é sono. Mas não consigo manter os olhos fechados por muito tempo. Quer dizer, insônia é isso, não? O que mais seria?
Meus olhos, hiperativos, ou claustrofóbicos, não sei, inquietam-se em minhas pálpebras ao conforto do meu travesseiro e no calor que compensa todo esse frio do meu quarto. É o que eu quero, talvez também seja o que eu preciso.
Não, não é o que preciso. Repasso mentalmente cada cena do meu dia que possa ter colaborado para essa madrugada acessa: Assisti a um filme de terror que já havia visto antes e, desde a primeira vez, não conseguia me meter medo. Faltei à aula de boxe, pois estava muito cansada. Fiquei com uma menina.
Sobre ela: É jovem, comparativamente falando; enquanto fios brancos brotam da confusão de meus 17 anos, ela goza da despreocupação de seus quase 15. Nada de extraordinário, senão pelo fato dela “preferir meninos”. Não sei se a expressão soou mais desafiadora por seu entusiasmo quando meus lábios encontraram os seus. Talvez seja só por não conseguir entender o que aquele imaturo coração enegrecido precocemente queria – e isso não garante que fosse ele quem impulsionou seu ato – ou por não ter-lhe concedido a certeza; a minha certeza. Todavia ela fuma. Para muitos fosse essa a explicitação de seus conflitos interno, a mim apenas a convicção de que sabes o que quer. Então por quê? Não depois de teres sorrido, de teres se saciado, de ter elogiado, de ter pedido e desejado um pouco mais.
As coisas não estão fazendo sentido. Como me dá uma agonia não conseguir entender o que se passa! As madrugadas já foram mais divertidas. Não consigo simplesmente esperar para resolver as coisas, preciso que tudo se ajeite e logo, já, para agora!
Seu nome... Como era seu nome? Bianca? Algo com “B”, mas tinha cara de Bianca.
“Façam sentido”, eu quis gritar para a rua escura na frente da minha casa. Seria inútil. Emudeci. Calou-me a falta de síntese. Perdi a voz quando tinha tanto pra falar. O que eu quero mesmo dizer? Nada, quero meu silêncio. O silêncio do meu sono; não quero nem sonhar para que as incompatibilidades não me apareçam em sonho. Aquelas luzes apagadas me inconformava; “Acordem”. Que tipo de pessoa fala com lâmpadas? Talvez a mesma que passe a madrugada acordada por apenas não entender 15 minutos do seu dia.
“Luzes apagadas”, num contexto de “ignorância” encaixou perfeitamente em toda sua ambiguidade. Era só explicar. Sei que entenderei tudo o que me tira o sono; senão amanhã, depois. Porém não tenho tempo. Não tenho tempo disponível para retomar dúvidas, para voltar as linhas e preencher lacunas em branco. Estou saindo dos meus horários vagos de juventude e aderindo à correria da minha vida adulta. Necessito que as coisas se esclareçam mais rapidamente.
Quer saber, não há nada mais a ser feito. Dizem que a madrugada faz tudo perder a forma, esperava tola, eu, que nessa deformação surgisse definido ao abstracionismo algum sentido. Mas tudo o que me tornou fato foi a minha noite perdida, entregue às perguntas grandiloquentes, e, sempre uma opção, talvez apenas meu raciocínio tenha se desmanchado e toda a lógica, que me parecera consistente, tenha transbordado a taça da sensatez. Dopar-me-ei com o que me sobrará do meu suco de maracujá, uma vez que tudo o que me resta é a esperança de que o amanhã já é hoje faz bastante tempo.