Um pouco de perda

Depois de muito tempo, opto por voltar a escrever… E isso me preocupa, mas, desgraçadamente, não me resta mais nada, senão escreve.

Eu gosto muito de tratar do tempo, do amor, da vida. Poucas vezes falo do futuro, tempo, para mim, é passado. Amor, para mim, é perda. Vida, para mim, é processo. Acredito que, uma única vez, falei da amizade. Deveria ser o oposto de Candide e apoiar o “optmisme”.

Hoje, porém, trarei um “pequeno”, mas, não, insignificante tema: a perda. Começo dizendo, se você nunca perdeu um grande amor, não sabe como é viver.

Só aprendemos a viver, quando perdemos um grande amor. Quando nos encontramos frente ao escuro abismo da solidão e da angústia, da dor, do medo e da morte, não que essa última seja frequente, mas, sim, há.

Amar é um processo, assim como a vida. Todos os grandes amores e os pequenos e os fáceis e os difíceis e todas as variáveis dessa variante, olha o lado linguista falando, têm tempo de validade. Tudo acaba. Tudo se esgota. Tudo termina. Tudo é nada.

Assim como no amor, assim como na vida. E livrai-me de todas as dores, amém. Esse é a oração dos desesperados, mas, hoje, falo de perda, não de religião. Assim como na vida. Viver é o eterno PERDER.

As pessoas costumam dizer que o verbo da vida é sonhar, eu mesmo já o disse. Faço-me valer o direito de discordar-me: o verbo da vida é perder. E perdendo é que mudamos. Mudando é que ganhamos. E se ganhamos, alguém, em algum lugar, em algum tempo, de algum modo, sem que possamos controlar, perde.

Entender é simples: imagine que nós amamos muito uma pessoa, mas ela não nos ama. Infortúnio! Certo, mas ela não ama. E outra pessoa a encontra primeiro. Bom, eles se apaixonam e se casam. Veja a ironia: você perdeu um grande amor, por outro lado, uma família ganhou a possibilidade de existir. Fica fácil pensar assim.

Enquanto uns nascem, outros morrem. Enquanto uns se casam, outros se separam. E, voltando ao amor, costumo dizer que temos DOIS grandes amores durante toda a nossa vida. O direito de dizer DOIS: “Eu te amo”, com verdade, com sentimento. Imagine agora, bons matemáticos, em um grupo de 10 pessoas quantas amariam a mesma pessoa e quantas ela amaria e quantos ficaram gastos, sem amor.

Outra coisa que costumamos perder e muito é a amizade. Veja só, quase nunca falo dela, mas, hoje, sábado, resolvo tocar no assunto, como se assunto, perdão aos analistas, fosse tocável. Discurso é sonho, é fantasia, é tudo, menos tocável. Ele é quem nos toca. E tocado pelo discurso, falo da amizade.

Amigos não são eternos. Eles mudam. Mudamos. É simples assim. Seu melhor amigo e você podem fazer várias coisas juntos ou nada e terem bons momentos juntos, ‘d’accord’ Shakespeare, mas, infelizmente, seu melhor amigo e você, um dia, hão-de dizer adeus, palavra tão corriqueira, mas se dito com o amargo da boca que toma muito café, esse adeus ganha outros contornos.

Perceberam que tudo é perda? Tudo é dizer adeus, até logo, até breve. Perder motiva-nos a seguir em frente. Ao futuro!

Por isso, perca suas flores, seus amores, seus amigos, suas fantasias e sonhos de viver a vida e recomece. Nada mais belo do que perder e sair em buscar de ganhos. Mas se lembrem, meus queridos e adorados leitores, olha só eu querendo ser Assis, sempre que um perde, outro ganha. Sempre que um ganha, outro perde. Eis a verdade incontestável da vida.

Le Vay
Enviado por Le Vay em 06/04/2013
Código do texto: T4226470
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