Plenitude

A espera foi grande. Tanta espera me fez quase desistir. Foi quando o algo de torto em mim me fez olhar ao meu redor. Desentendi subitamente o porquê de olhar sempre em linha reta. Um caminho bem traçado tem sempre as suas curvas.

E as curvas, as linhas, as frases retas, mas toscas, daqueles textos discretamente insuportáveis me fizeram pender para um destino incerto. Incerto era o que eu, no auge da luta para abrir os olhos, achava. Foi difícil me desprender de uma dor que já era tão minha, só minha. Já tinha me habituado às feridas. Era aquele desconforto familiar que fazia com que as coisas parecessem tão retas, certas, imutáveis.

Aquelas palavras que me recriavam tão lentamente, e profundamente, levaram-me a uma embriaguez dos sentidos. Aquele sentimento novo, assustador e bem quisto foi me reformulando, curando-me daquele vício do costume.

E foram justamente aqueles traços garranchados que me tiravam, diariamente, a paciência que livraram a minha vida de um rascunho. Pude passar a escrevê-la com meu próprio punho. Fiz o que eu queria.

Finalmente, mudei de rumo, entortei o caminho, fiz a curva que me entortava.

A plenitude surgiu estonteante aos meus antigos olhos de prisão.

Caio Márcio Rocha Coriolano
Enviado por Caio Márcio Rocha Coriolano em 12/11/2012
Reeditado em 12/11/2012
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