Faxina na alma
Comprei um rodinho de pia.
Tal atitude significava o começo de uma nova
fase.
Ao menos, a expectativa de um começo de uma nova fase.
Dali em diante minha pia ficaria mais sequinha e isto geraria uma reação em cadeia. Os talheres enxutos, o chão varrido,, armários arrumados, cama feita...lençol esticadinho!
O banheiro organizado cheirando a pinho, lavanda, ou qualquer outra fragrância...
Calçados na sapateira, meias nas gavetas.
A simples compra de um utensílio aparentemente banal me arremessaria a escolhas e ações muito mais complexas
...Não deve ser lá tão difícil manter a casa em ordem ...
não é recente porém alimentar a neurose de que minha casa física,
concreta, de concreto e telhado reflete o aspecto da minha casa mental.
Se posso harmonizá-la, por que não faço o mesmo com minha casa íntima?
Por que não pego o esfregão, arregaço as mangas e inicio o serviço...
Esperar mais o quê? Pedir ajuda ?
Não dá para querer minha casa de dentro arrumada, contratando o serviço de outros, terceirizando mesmo, sabe?
Faxina na alma não se delega.
Valéria Escobar