Pular?
Quantas vezes nos colocamos frente a um abismo? Ficamos parados olhando e deixando-nos levar por uma insólita vontade de voar. Voar para um lugar que seja diferente deste, que estamos agora. Quantas vezes nos pegamos pensando que existe um mundo diferente depois de algo que, na verdade, desconhecemos o que é?
Ficamos presos a um eterno bater de asas do tempo, sem que algo aconteça. Sem que o pulo seja dado, sem que as palavras sejam terminadas. Como aquelas malditas vezes que somos pegos pelo beijo dos sonhos, que nos arranca as palavras da boca e deixa um ar de perdição.
Ficamos parados, mas por que falar em nós, se na verdade, quem está parado sou somente eu? Ou seríamos hipócritas e ignoraríamos o fato de que milhões de pessoas no mundo estão paradas frente a abismos das mais variadas profundidades, dos mais variados tipos e das mais variadas intensidades. Pular ou não?
Isso tudo poderia passar pela nossa cabeça antes de pularmos. Sim, poderia. Na minha? Passa somente uma memória: droga, como poderia morrer hoje, sendo que mamãe faria lasanha.
Ficamos presos a memorizações de coisas que poderiam ter sido algumas coisas, que poderiam ter vindo a ser. Coisas que, na realidade, deixaram de ser, há muito tempo.
Sinto um vento que arrepia a alma. Seria a certeza de que vou cair? Seria a incerteza da minha queda? Seria a indubitabilidade de algo? Cansei de pensar muito sobre um mero passo.
Afinal, que mal pode haver no fundo do abismo? Um monstro? Já vi vários em minha vida. Um demônio? Não me faça rir, sei o exorcismo. Um anjo? Seria interessante conhecer tal criatura. Haveria eu mesmo? Bom, só há um jeito de descobrir...