Nosso oscar de pior romance

Você não entende que eu finjo tudo isso pra fugir. Minha vida inteira é uma grande mentira que eu mesma conto para mim antes de dormir, porque a realidade é em todas as cores mas tem uma qualidade ruim, e eu prefiro preto e branco. Eu preciso fugir porque a cada lugar que fico eu saio de lá menos inteira, é meio que aos pedaços mesmo, como se fosse o preço a se pagar por partir: um pedaço do que mais preciso de mim.

A fuga me faz bem. Quando acordo todos os dias, ainda sem saber quem acordou primeiro eu ou o sol, eu repasso nossa história, me alongando mais que o normal nos detalhes dos dias que não vivemos, daquela viagem que nunca saiu do papel, daquele domingo na cama que não tivemos e de todas as conversas que deixamos de ter. A gente se escondia do mundo pra poder nos encontrar naquele quarto escuro, porque a escuridão era o conforto de toda a nossa tristeza. Eu sei que você, assim como eu, era triste. Tínhamos aquela dor no peito e, às vezes, nem a escrita sarava. Assim como agora, eu escrevo pra aliviar toda essa agonia, todo esse tormento que me levava a sair correndo no meio da noite. Ainda salto da cama aos gritos, baby.

Porque nunca fomos a Paris? Queríamos tanto isso e ainda assim não nos demos esse luxo, tínhamos todo um destino traçado e uma dança marcada na beira do Sena. Porque não te liguei mais vezes de madrugada te pedindo para vir me tirar da loucura? Nessas noites sem ti eu começo a enlouquecer e ninguém me puxa pra fora do meu mundo criado. Eu deveria ter te interrompido numa dessas nossas brigas monstruosas em que eu gritava que você era um merda e você falava que nunca mais ia voltar só pra te dizer que eu não conseguia viver sem você. Ao invés, eu dava de ombros e caminhava pra longe gritando que te odiava. Porque eu não fui àqueles encontros que você tanto pedia? Porque eu não vi mais vezes contigo aquela peça triste que eu evitava porque me fazia chorar? Porque que é que agora eu me doo de saudades e nem ao menos te procuro?

É dessa realidade imunda que eu tento me esquivar com meus filmes, baby. É por gostar das neuroses da protagonista ou do beijo que anuncia o fim que eu prefiro os filmes em preto e branco. Porque quanto maior a tela menor a realidade, porque quanto mais alto o vilão grita, menos denúncias do meu coração eu escuto. Minha cabeça é muito barulhenta, então eu corro pra longe de mim. Só me resta fugir já que sou covarde e não sei te olhar nos olhos e não chorar. Já que agora não temos mais música, não temos mais história. Então eu invento um falso romance e digo que você morreu. Te fiz um fim trágico, porque nosso amor não pode acontecer.

Porque o maior drama de toda história é o amor. E o da minha, é você.