SÓ POR HOJE

Por que insisto à poesia

se ela nada salva,

nada ameniza...

Minha alma se engana,

deixa-se cair seduzida

em cada verso...

É como revelar um segredo,

abrir fendas em mim

e nada me valer...

Por que persisto à poesia

se quando a deixo pelo mundo,

ela se perde entre notícias e anúncios;

entre o batente e o almoço;

entre o trânsito e a novela...

Contudo, sempre retorno à poesia

e me disponho confiante

que ela possa me salvar de toda inquetação.

e, portanto, não me liberto,

mais me prendo

dentro dessa vontade interminável

de poetizar...

É um vício.

Entro em crise se me falta a poesia!

Ela que tanto me tira,

me expõe e me condena

a amarelar em papéis amassados,

gavetas empoeiradas...

O que me presta a poesia

se só por um instante, qual muito lhe convém,

durante sua criação,

me escuta e até me compreende;

logo, então, retira-se

como um filho crescido...

Não, não me serve a poesia!

Mas só por hoje deixarei que fique

até o fim...