Quando eu era mais jovem, sempre fugia da minha idade e tentava viver a mulher que hoje sou. A menina e a adolescente, que eu era, dormiam em minha alma e o tempo assim passou, hoje sou a mulher que tentei viver, nos idos daqueles dias, mas a menina, que eu era e que em mim dormia, agora acordou e quer viver hoje em mim, com todo seu esplendor. A mulher que tentei viver quando mais nova, se quebrou em pedaços, pois não tinha estrutura, estava no corpo e na alma de uma menina, passando por toda a sua adolescência e indo ainda mais além. O dispontar dessa mulher era vívido e forte. Sua personalidade muito rica, fluídos de artes, de loucuras, encantos e seduções, tomavam conta de mim. Assim, me afoguei nos recônditos mais abssais do meu interior. querendo viver essa mulher que me tomava de assalto, mas eu não conseguia segurar seus encantos, loucuras e seduções... Em um determinado tempo, pirei, caí atordoada, meus sentidos foram tomados, e todo as minhas emoções, lucudez, sensatez, ética, visôes, o que era certo ou errado, o meu prumo, eu perdi. E foi aí que desfilaram por dentro de mim, tantas mulheres, hora de preto, hora de vermelho, hora de branco, às vezes tímidas, outras gargalhando, hora meditando hora sorrindo, outras vezes chorando, Às vezes com taças de bebidas nas mãos, batom vermelho carmim e eu deitada no chão de olhos fechado, coração acelerado, meu Deus o que será de mim? Quem dessas mulheres, realmente eu sou? Mas todas passavam tão rápido por mim, sem que eu as conseguisse conter e foram elas passando, como quem passa dando-se apenas a conhecer e nenhuma delas parou, Não ficou ninguém em mim. Enfim, terminou esse desfile intrínseco. Levantei-me, senti-me completamente vazia, confusa e com muito medo, nenhumas delas havia parado, não consegui sentir, nem entender, Qual era o meu verdeiro ser. Quem eu era naquele momento? Pois até quem eu achava que era, tiinha se ido naquela passarela. E toda sua fragilidade, se perdeu ali. E agora? Quem sou eu? me perguntei, logo me respondi: Não sei, não sei e por favor seja voce quem for, que está em mim e que me faz essa pergunta agora, fique calma e calada. Tive realmente muito medo... E tudo silenciou-se em mim. Passei dias confusa e alheia à tudo ao meu redor. Dias depois, me adveio algo, que parecia ser do céu... Senti-me serenamente descendo sobre mim, com uma ternura imensurável e uma doçura sem fim. Àquele terno e eterno momento que eu tanto queria ter e que jamais esquecerei, jatos de alegria espargiam-se pela minha essência e minhas fontes foram inundadas de paz e ternura. Dei Glória à Deus e sorrindo saí para o terraço onde admirei e beijei as flores. De lá saí para o portão da rua, olhei e vi pessoas como nunca tinha visto, pois eu as olhava com intenso amor. Tudo se tornou mais belo, notório e com mais sentido. Bom às mulheres que senti passando pelo meu interior, elas faziam parte da minha personalidade. Hoje sou uma daquelas mulheres, com todas as qualidades e defeitos que todas elas tinham. Afinal, era minha dupla, trípula ou sei lá, quantas personalidades, sendo ilustradas no espelho da minha alma e projetada em movimentos numa passarela intrínseca, mas que estava visível para mim. Às vezes não consigo ainda me entender. Sou um universo, em labirintos, difíceis de ser desvendados, mas sou feliz, porque minha essência é boa, pura, rica e fértil. Mas e aquela menina que deixei adormecida para viver a mulher que sou? Ela agora esta bem acordada, quer me viver, ser em mim, o que em seu tempo, não conseguiu ser. Ela é forte brava e guerreira e às vezes me toma também de assalto sem me dar chance de me defender. Mas eu agora tenho maturidade para me posicionar e mesmo assim eu às vezes ainda caio em sua teia. Menina esperta, forte e linda. Mas, quer saber? Chega, cansei de ser ingênua, cansei dos vestidos floridos, cabelos cacheados, cansei de ser submissa, cansei de ser chorona, cansei de ser insegura e cheia de pudor, vou romper essa barreira e vou assumir essa mulher que eu sou, ainda não lhe dei chance pra viver seguramente, nem ao menos a conheço por inteira. Quero ver se consigo ao menos sê-la. Mas, sabe? Essa menina é como o néctar de mim, eu a entendo, e sempre vou lhe aceitar, amar, mas paciência, na hora certa vou deixá-la reinar. Agoro preciso assumir o que realmente sou. Uma mulher... Mulher, que depois de quebrada em mil pedaços se refez, 
juntando os cacos e seguindo em frente... Sem lamentos, ou mais querências, 
catalogando apenas seu acervo de experiências


Kainha Brito