Mil migalhas a milhas de mim
1ª milha
Dormir a teu lado e abraçar o vazio é como abraçar apertado o tronco do mandacaru, mas degustar o teu beijo estalado em meu lábio é como se escaldar ao olhar melancólico do Saara e sentir na garganta roças baunilha e morango de um refrescante sorvete.
A um passo de mim e não me poder enxergar é ti acenar a milhas, da geral do Maracanã, mas quando minha luz te ofuscar, perceberá que sou da cor de minha alma e não da cor de minha pele, que sou inteiramente luz, sou lanterna em tuas mãos.
2ª milha
O choro penoso das nuvens, abafado pelo lenço gentil da terra, provoca um embriagante aroma que minhas narinas não sentem, mas meus olhos crédulos vêem através de quatorze polegadas de uma satisfatória mentira, por isso estendam-me um guarda-chuva que em verdade vos digo: ao leito de um rio não chore tua sede, gargalhe tua sorte que a chuva está na televisão, semeando verdades, tal qual, nuvens de algodão. A colheita será farta, é tudo uma questão de ótica, por isso não derrame uma só lágrima pálida de teus olhos nebulosos sobre a pele escura de meu seco prado. Fará nele germinar um desejo fora do alcance das mãos.
Carlos Roberto Felix Viana