Sol da meia noite
É dia, suponho que seja, as condições dizem que sim. Os sinais do tempo, o vapor, a umidade ofegante no ar, a brevidade opaca de luz escapando cambaleantemente por entre as tangenciais paredes afirmam a condição sublime e apocalíptica do dia. Por quase um segundo consigo perceber uma infinidade de raios translúcidos, caóticos, colidirem com as mais variadas formas que meus olhos puderam um dia se agraciar, e certamente era dia neste dia.
A qualquer hora da noite, em minha vida, meus olhos se inebriavam da eminente clareza do dia. Saudavam ao dia como que cortejassem seus dotes reluzentes, como que lhe despindo a fronte com estranha voracidade e num posar de olhares em vasto assédio degustaram teu néctar. É pena que o martírio da lembrança, seja hoje o travesseiro que conforta a lucidez restante, de quem perdeu por acaso, ou descaso, a luz de seu dia, que se confinou, então, às trevas da noite, e ainda que seja dia, em algum lugar de sua sarcástica memória serão 24 horas de uma eterna noite, a qualquer hora do dia.
Carlos Roberto Felix Viana