Teus olhos
Nunca feche teus olhos.
Algo seriamente horrífico pode acontecer.
Quando fi-lo, balançou-me a mente entre as paredes da alcova.
Um frio lascivo escorreu pela nuca e além-costas.
Meu senso de coragem não se movia, vendo a própria locomoção em frangalhos;
E minh’alma sentiu-se numa náusea cortante que fazia-me pensar em regurgitar
até mesmo ao ver casais na praça a oscular.
Peço-te agora! Nunca, nunca feche estes teus olhinhos.
Este par de cristais tam singulares em beleza.
Não pratique tal difamação às estrelas, que agora pendem
Abaixo de tuas sobrancelhas. Oh, abominação sem igual!
Quando fi-lo minh’alma revirou-se...
Transformou-se em cinzas de cor trevosa e assimilou-se com o pó da terra,
Tam indiferente em tua importância.
Logo o vento arrastou-me. Arrastou-me e levou consigo as virtudes mais nitentes
Que meu pobre espírito lutou para formular. Oh, e dilacerou tuas formas e categorias.
Ah! Que ato pútrido seria este!
Fechar os olhos cristalinos! É pecado, é... Sei lá eu o que pode ser!
Mas não o faça, peço-te. Ah! Maldição!
Perdoe a má linguagem, mas... Maldição, outra vez!
Que verbo mais pútrido e lorpa já se uniu à tua eloquência?
Nem mesmo um terço deles.
É o que o pobre poeta pede.
Não feche os olhos.
Leia estas páginas e desfrute do que o mundo oferece para ver.
Leia estes versos e mantenha teus belos olhos bem abertos.