Paixão e Expectativa

O gostoso da paixão é a expectativa. Enquanto houver o que acontecer pela primeira vez, deve haver expectativa. Trançar as mãos com o estômago embrulhado ao ver à distância o semblante da pessoa amada é, francamente, uma das sensações mais humanas e mais vivas que existem. Há quem diga se tratar apenas de insegurança. Podem estes ser os mesmos que se bajulam pelo vasto rol de mulheres beijadas, desejadas, apalpadas como um miolo de pão. Bem, cada pessoa tem um estilo de vida e acredito piamente que é possível “vencer na vida”, conforme diz a sociedade, em cada um deles. Não sei se faço o tipo romântico, mas encho a boca para dizer que adoro criar expectativas. Mais do que isso: não vivo sem isso. Quebro a cara, jejuo – não por opção –, grito, faço cera, fantasio muito, muito. Também, agarro e beijo com sede, aproximo-me da natureza, sorrio com satisfação e me deito com sono fácil. É isso. A paixão faz a vida sem limites; a vida é em um dia; e cada dia reserva suas expectativas. E são elas as responsáveis por tanto sobe-e-desce, pois que a vida tem um jeito matreiro de brincar com nosso emocional e, quando menos esperamos, sentimos a vida chover impetuosamente depois de horas de sol a pino. E a paixão é a vida; é o tal do leão que se mata no dia; é dolorida, vulgar, carnal, mas também serena, fraternal, doce. A paixão, quando menos se espera, aparece. E incomoda. Muito. Até tira o sono nuns dias, além de desconcentrar os trabalhos mais simples. A comida perde o gosto, o banho é mais demorado, o telefone vem mais caro. Mas, também, a televisão fica divertida, os dias de chuva não são mais solidão, e músicas compõem uma trilha sonora para cada dia. É! A paixão incomoda. E como resistir a essa dor de cabeça?

Girardello Filho
Enviado por Girardello Filho em 29/01/2011
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