desabafos

Há tanto mais para se esquecer com ódio do que se lembrar com esmero. Ou seja, de tantas coisas das quais não me lembro a tantas coisas de que me arrependo. Já me esqueci das primeiras; as outras têm destino certo: fundo de minhas gavetas.

Faça duas listas: uma de coisas das quais te orgulhas; outra, de coisas de que te arrependes. Se os arrependimentos forem em maior número, algo não está certo.

Há várias razões para se arrepender. Agir de má fé, fazer o que não quer, vingar-se, ser impulsivo, levar um soco, roubar, passar a noite em claro, insistir nos erros...

Mas fazer o quê, quando o corpo é uma bomba-relógio?

Enfim...

Tem algo mais contraditório do que o amor? E a verdade, o que mais é senão a de cada um? E a tolerância, perdida em gerações passadas, enterrada como amuleto no peito de cada defunto? Até as amizades já são filtradas pelo comum-de-todos; quase não há mais com quem contar e, francamente, se você relata sua vida a mais de três pessoas afora familiares, você é pouco seletivo.

Pensando bem, a vida é mais contraditória do que o amor. Ao menos, o amor que conheci. Este é capacho, carrapento, traíra, rancoroso e tolhente.

Enfim, a vida é contraditória em seu segundo sentido.

O primeiro sentido é o seguinte: ela, universal, que está sempre aí, enquanto movimento de inspirar e expirar; Já o segundo: ela, universal, sobre o que se desconhece um antônimo que exprima quando ‘tudo vai mal’. Porquanto, você sabe, se dizemos vida, referimo-nos à felicidade, satisfação, sucesso. Porém não podemos chamar ‘morte’ ao que é tristeza, amargura e fracasso. Apenas ao que não mais respira. É contraditório, não?

Enfim,

A vida vai mal. E o amor, é ainda insolucionável (e cretino).

Girardello Filho
Enviado por Girardello Filho em 22/11/2010
Código do texto: T2629373
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