História da morte do ego (ou história da EU E A BANDA)
No começo éramos um silêncio só. Tínhamos medo de que alguém nos descobrisse, contasse para todo mundo que inventávamos moda cultivando flores nos peitoris das nossas janelas. Vai que fosse proibido pensar/cultivar: às vezes pode ser perigoso, podemos perder o controle de tudo e nossos jardins podem tornar-se violentos, expansivos e traidores.
E o mais grave de tudo é que esses peitoris eram estreitos demais para agüentar muito peso. Enquanto semente, tudo certo. Mas aos poucos uma vontade floresceu, fizemos o sol nascer, fizemos a chuva cair, manipulamos nossas canções até não termos mais solução: enfim deixamos nossas flores crescerem demais e caírem para fora, desprendendo-se das suas raízes e, de alguma maneira, alcançando os riachos. Não era mais possível detê-las e agora não nos pertenciam mais.
Foi-se o silêncio!
A tempestade chegou e as trovoadas vieram. Debatemo-nos, esperneamo-nos, enlouquecemos! Nosso ego foi ferido, pois antes queríamos moldá-las e agora elas são o que são. “Como eu queria que minha rosa fosse branca! Mas ela teimou em escolher a própria cor. Então logo percebi que agora vive para o mundo e o mundo precisa dela do jeito que ela é”.
Pois é, no fundo era o que queríamos. Nossas filhas não são nossas! Também não são mais virgens! De qualquer jeito, agora sonhamos e lutamos para que elas cheguem aos grandes rios... e deságüem no mar, onde todos se banham, onde as marés trazem Boas-Novas e onde as poesias brotam do calçadão.
Danilo Andrade (EU E A BANDA)