Pilhéria

Todas as vezes em que penso sobre a vida creio mais precisamente que essa não passa de uma grande brincadeira narrada diariamente, na terceira pessoa, por não sei quem, tendo como pretensão tornar essa pilhéria menos miserável.

Acredito que esse alguém, de posse dessa prosa abjeta, quando da sua criação, ambicionou, assim, manter-nos esticados, na posição vertical, eretos, marchando rumo a algum lugar, que também não sei aonde fica e menos ainda o que pode nos oferecer. E mais, esse alguém, acreditou que dessa forma poderia nos cegar frente às injustiças que nossos olhos alcançam e, desgraçadamente, acostumaram-se a ignorar.

Esse chiste consiste no poder de desbotar um a um impiedosamente, de forma feroz. Estamos nos tornando cada vez mais singulares.

Caso o infame, ou a infame, sei lá, não tivesse tornado a vida uma piada estaríamos deitados, de peito para baixo, nas calçadas frias, lambendo a poeira adquirida através da infeliz e crescente ignorância humana.

Talvez fosse mais digno para se brincar de viver.

Quem sabe a poeira afastasse essa cegueira proposital concedida por esse alguém, que eu não sei quem é, sério, não faço a menor ideia mesmo de quem seja esse sujeito, apropriado, ao meu ver, de uma pífia estranheza e atuando eficazmente de forma deveras ordinária.