Hoje é dia de morrer
Hoje é dia de morrer. O frio cobre meus pensamentos mais profundos e os congela a ponto de não mais me ferirem, é fato que a dor era companheira inseparável, mas agora, vejo que mesmo prostado ao leve toque deste sol que esquenta sutilmente minha face exposta porém não mais disposta a dar a cara metade ao desafio, ainda deixa de fato, muito a aquecer se não ferver, esta era a vontade antes. Agora, vejo que neste calor, disfarço tudo que deixei neste lago de profundidade incalculável feito de lágrimas e angustias agora congelado pelo frio. É frio, e eu vou morrer agora, sem tristeza alguma, pois preciso tanto nascer novamente e deixar estas memórias para serem apenas póstumas, e começar outra vez em outro lugar em outra história cheia de novos contos e belas musicas onde as flores me farão companhia e a natureza será mãe presente e o amor uma constante, não tenho duvidas, vou fechar os olhos e espero não acordar mais aqui nesta dor que dispersou minha felicidade em tantas e tantas partículas que se tornaram invisíveis até para meus olhos que eram tanto interessados nesta prosa afim é claro de transformar em poesia, sinto agora o perfume das flores e suave toque do sol me convida a deitar na grama e deixar de lutar, entregar este resto de força inabalável que prendia entre meus dedos e punhos a ponto de sangrar por pura vontade de luta contra o desigual, agora abro minha mãos, minha alma, minha vida, abro mão e fecho os olhos e ouço a canção preferida, penso nas flores e no amor em que tanto acreditei, é hora de morrer, estou tão feliz agora que percebo que tanta dor não foi em vão. Percebo que agora que deixo aqui tudo isso junto com desejos pesados e não realizados, posso flutuar em novos sonhos e deitar no colo do vento, ter o carinho que senti falta tantas vezes dentro da alma, vou indo, meu tempo desta forma que compreende e entendo, e me limito a explicar da forma que penso, acaba aqui, é hora de morrer, o encontro é fato e inadiável, tenho pressa, estou eufórico e extasiado, é frio e nem sinto mais a dor, é leve o calor e sei que fiz a coisa certa, mesmo quando estava errado, fiz apenas viver o prazer de viver, esperei de portas abertas ser tomado por verdades que não fossem as minhas, claro, que além deste sol, esquentasse tão profundo lago, agora não me importo, deixo ali as águas frias e congeladas de todos os prantos derreterem junto a minha partida e correr para algum lugar e queda profunda que nunca mais as sinta, agora, é hora e dia de morrer, quando nascer junto a flor que brota pela manhã, desta vez, sinta o sol que me fez abrir, e deixe tocar sua face, sinta o perfume, e veja de forma clara, não é mais dia de morrer, neste dia, neste perfume, neste sentir, neste amor, será dia de nascer.