Dorian, a beleza que não vemos.
Dorian.
A beleza, obra de um juízo ou a fonte de inúmeros preconceitos?
No que se fundamenta esta formosura? Como tal pode ser determinada?
Elucide-me a distinção entre a beleza bucólica, e singela, da chamativa burguesa?
Como pode ser admirável algo que não se justapõe ao angelical? E porque os demônios são horríferos, já que se seu líder fora o mais majestoso de todos os anjos do firmamento?
Necessariamente a iniqüidade tem de ser hórrida, contrapondo-se a licitude advinda do pulcro? Ou apenas emaranhamos conceitos expostos concebendo tais crendices?
O culto a beleza, reconhecido pela alcunha do mais atenuado e célebre deleite libriano. Persisto!
Responda-me que beleza seria essa? A espiritual? A física? A ideológica? O que seria a beleza em sua prima forma? Seria a semelhança adônica em detrimento de sua composição espiritual? O fino nariz aquilino sobre o negrume escurecer de sua aura?
Honestamente será que o negrume escurecer da alma anteriormente citado é perverso, ou apenas mais um ditame preconceituoso da beleza na era da supremacia racial? A beleza ariana quem sabe?
Peço-lhe, me exemplifique a beleza. Não consigo lográ-la, sequer decifrá-la. Desconheço-me, apenas sei do que não gosto. Somente acredito na beleza da arte humana. A beleza incorruptível, sincera, a exposição da alma em matéria.
A Arte! Esta independente, de carcaças esculturais até mesmos as traçadas por tinta subcutânea, um ancestral tributo Celta em homenagem aos seus deuses, que hoje fora banalizado a um padrão alternativo, comparado a arte. Talvez uma arte rentável. Algo que não creio e ratifico desgostar. Impossível seria uma relação contábil de vil metal produzir arte. Sinceramente a composição de vulga arte por cifras é inconcebível. Um prazer ilusório desprovido de qualquer essência crítica. Apenas uma satisfação das ganas desnecessárias por pessoas que se tornam aborrecidas.
O governo! Também não pode se aproximar da doce formosura. Não existem padrões e interesses que acabam por sucumbir à pura expressão artística.
A censura? Impertinente seria isso? A privação por meros conceitos morais? Patético! Honestamente desfigurado. Completamente passível do ridículo. A feiúra em forma de código.
Imploro-lhe incomensurável e sensato tempo, me dita! A beleza és a dádiva divina ou somente um mero estimulo oriundo da sociedade de consumo? Um ponto de vantagem perante os demais irmãos ou a melhor maneira de criarmos opositores?
Arranca-me a maquiagem que de tão espessa oculta meu rosto, e me revele! Por qualquer meio, mas revele-me! Será que de tanto buscar a beleza, tornei-me o mais deplorável e horripilante dos seres, ou me transformei nesta criatura sinistra por reconhecer-me uma vítima e desvendar que o belo não passa de uma cultura imposta?
Por fim! Explicito-lhe a beleza em forma artística, já que não me deste a resposta apaziguadora!
A formosura momentaneamente desconhecida das palavras aqui transcritas, ao final apenas revelam o quão efêmera é a beleza, se compararmos aos termos simples e desencantadores das tão rebuscadas expressões metalingüísticas utilizadas!