Às vezes silencio o olhar, é preciso calar a alma das coisas que vejo, pois as vendo de dentro desmitifico a beleza, pureza não há, tudo é intento e movimento, eu sei como você me quer e sou aquilo que você quer, eu não sou, minha razão é coletiva, minha consciência é interativa, eu posso me punir ou me homenagear não pelo que faço, não pelo que almejo, simplesmente pelo que vejo.
Existe quem acredite no castigo, no retorno do ato torto, na retribuição do destino ao desatino, como se tudo fosse correlato, como se houvesse um deus onipotente e onipresente que a tudo assistisse e devolvesse ao traidor a traição, ao agressor a agressão, ao homicida a morte, ao sátiro a tragédia, ao poeta a tristeza.
Houvesse este deus, onde ele estaria? Na face que recebe a tapa ou na mão que o desfere? No corpo que chora a fome ou naquele que se alimenta? Em quem teme a morte ou quem a fomenta? Sendo onisciente, em todos, se concluiria. Mas se deus está presente no pecador, o pecado é, então, um ato divino? Ou deus se ausenta do criminoso? Porém, se é assim, o crime é cometido na ausência de deus, não deveria ser deus o punido, por negligenciar sua onipresença?
Tenho de calar meu olhar, que vai carregado de compaixão amorosa. O filósofo diz que deus morreu pelo homem, mas eu sou um homem que morrerá de compaixão por deus, pois o sonho vendido é bonito como um sonho azul, a idéia é clara como o som de um violino, mas deus é uma promessa incumprida, uma possibilidade que não aconteceu. Anoiteceu o peito do homem, a imagem de deus é a que via no espelho, morreu um homem que via, morreu de compaixão por si.
É preciso silenciar o que vejo.
Este texto estava guardado n’alguma gaveta. Foi resgatado, intitulado e publicado após eu finalizar a leitura do último livro do José Saramago.
Existe quem acredite no castigo, no retorno do ato torto, na retribuição do destino ao desatino, como se tudo fosse correlato, como se houvesse um deus onipotente e onipresente que a tudo assistisse e devolvesse ao traidor a traição, ao agressor a agressão, ao homicida a morte, ao sátiro a tragédia, ao poeta a tristeza.
Houvesse este deus, onde ele estaria? Na face que recebe a tapa ou na mão que o desfere? No corpo que chora a fome ou naquele que se alimenta? Em quem teme a morte ou quem a fomenta? Sendo onisciente, em todos, se concluiria. Mas se deus está presente no pecador, o pecado é, então, um ato divino? Ou deus se ausenta do criminoso? Porém, se é assim, o crime é cometido na ausência de deus, não deveria ser deus o punido, por negligenciar sua onipresença?
Tenho de calar meu olhar, que vai carregado de compaixão amorosa. O filósofo diz que deus morreu pelo homem, mas eu sou um homem que morrerá de compaixão por deus, pois o sonho vendido é bonito como um sonho azul, a idéia é clara como o som de um violino, mas deus é uma promessa incumprida, uma possibilidade que não aconteceu. Anoiteceu o peito do homem, a imagem de deus é a que via no espelho, morreu um homem que via, morreu de compaixão por si.
É preciso silenciar o que vejo.
Este texto estava guardado n’alguma gaveta. Foi resgatado, intitulado e publicado após eu finalizar a leitura do último livro do José Saramago.