Quem se importa?
Quem se importa com minha dor? Quem se importa com a sua dor?Aquela que só nós sabemos como é, a intensidade e a imensidão. Quem? Respondo. Ninguém. Absolutamente ninguém. Ninguém sabe das lagrimas secas que derramas sobre o rosto quando ninguém mais vê ou ouve algo. Não, desculpe, mas ninguém ao menos de perto sente um terço de sua dor ou a minha, as pessoas não se importam, acordam e dormem pensando nelas mesmas, como você faz ou eu. Se não nos importamos porque acha que ali ou acolá seria diferente? Não seria, não foi e não será. Meu câncer é meu e não seu, eu sei que vou morrer e você no máximo sentirá pena ou remorso, ou talvez algum sentimento complacente com amizade, mas juro, vai se esquecer antes que os vermes acabem de consumir a minha comprometida carcaça humana. Hoje conversei sobre o egoísmo e pensei, o que de fato é isso? Ser egoísta é só pensar em si, ou fazer coisas que te fazem bem? Na verdade o alheio considera egoísmo qualquer coisa que não o favoreça, engraçado, não seria assim o egoísmo? De fato, assim é, considero por conta. Sei que nasci chorando e talvez morra sorrindo desta dramática e trágica comedia da vida, mas sim, ainda em meu peito, mente e alma, sobra espaço para algum romance, entre mortos, feridos e vivos, sou sim um romântico, despedaçado pelas más virtudes que me fazem quase desistir de acreditar no próximo da fila, que fila. Penso, tanto faço pelo próximo beneficamente e altruisticamente que me espanto com este lançando sua ira sobre o que faço ou existo. Somos assim, podres e insanos, mas acredito ainda que mesmo assim ainda consigamos amar. Não sou santo nem bento, sou o ópio de Maquiavel, acredito que tenho Deus e o demônio em minha alma, escolhi por Deus e aceito a presença do demônio, afinal assim somos feitos. Tudo bem, parece um texto um tanto revoltado, e é. Não espero compaixão alguma, meus palmos serão os mesmos seus, não me venha falar de caráter e tal, somos idênticos, e eu, ainda sei que penso e que talvez se estiver certo, tudo o que diz será comedia privada a seu próprio caixão, pois não, eu não, não vou lhe dar cartaz algum. Busco meu show, meu amor, meu resto feliz de existência. Sigo para tudo ou em vão, não vou saber, ainda escrevo, ainda amo.