COMO II

Como ter sem saber que tenho.

Como ser sem saber que sou

verdadeiramente.

Como dar sem que a isso só me agarre.

Como gritar ao vento sem que uma

única voz se faça ouvir.

Como cão sem osso jogado no deserto.

Como amar sem ser amado.

Como longe na distância mas perto do

coração.

Como o silêncio ensurdecedor de quem

morre por dentro.

Como a ilusão nas mãos da razão.

Como a liberdade roubada a uma esquina.

Como a natureza em perfeita

sangria sendo malquista pelos poderosos.

Como a criança que cresceu depressa

demais.

Como a fobia e o vício nos olhos

de um adolescente.

Como o vinho para curar todas as dores,

de mais um dia de exploração no trabalho.

Como trabalhar de sol a sol sendo

espancado pelo patrão.

Como a mulher de mil sevicias se calando.

Como sendo violada e ultrajada ante

o seu bom nome.

Como o bebé que morreu prematuramente.

Como o choro e o grito dos que

há muito perderam o senso comum.

Como que explicar-me e ninguém me

entender.

Como morrer por asfixia na sobredosagem

da eterna solidão.

Como um jardim sem flores.

Como dizer bem alto NÃO ao passado.

Como sofrer as dores de quem não

se reconhece mais.

Como quem caminha sem saber qual

dos lados escolher.

Como apelar a todos os sentidos

para afastar os maus presságios.

Como ser o povo que luta diariamente

para se realizar.

Como ser a poesia esquecendo-me de mim.

Jorge Humberto

10/10/09

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 11/10/2009
Código do texto: T1860228
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.