Sem chão

Rasguei o verbo, cortei meus punhos, dilacerei as nuvens e inundei de pranto meu coração. Servi escravidão voluntária em préstimos aos meus pecados, não tive minha redenção. Clamei, gritei, aguardei, tive paciência, caminhei e me ajoelhei perante tantos e todos, sangrei minha carne, parti meu coração, despedacei minha alma. Hoje recolho meus restos, em um campo de batalha abandonado pelas forças inimigas e o fogo amigo agora queima meus sonhos. Retalhos de um homem, a dor da alma, da carne, prantos horrendos ecoam dentro do engasgo seco de um choro sofrido silencioso. minha firmeza provem de muita fraqueza. assim me fiz forte para simplesmente não cair. Sem chão para pisar, mas com asas para voar. libertei a minha alma. Entrego meu coração mas não me rendo a falta de esperança em concluir minha historia de forma plena. Minhas asas coloridas, com a envergadura e força tamanha de tudo que me trouxe até estas nuvens, doces e inteiras, contemplo o sol, o gosto do vento, a esperança tímida que brota no meu coração de um novo amor, sem nome ou rosto, sem poesia dita ou escrita, não quero mais um chão para minha vida, quero um céu para meus sonhos.