Sou o que sou
Tenho minha cultura, minha raiz, meu brilho, meu encanto, meus calos, meus prantos e desencantos, tenho também a alegria de ser o que sou, tenho minhas palavras, secas, roucas, rústicas, tenho minhas intenções, trago o bom e o mau, sei o que sou e desdenho o saber do que vou ser, tenho a certeza da morte, mas também carrego a convicção de minha vida enquanto é vida. Não tente fazer isso, não tente me encurralar, não pressione, não tente, pois vou te atacar, sou fera se me vejo assim, diante disso, ataco e vou ao encontro da morte, seja como ela estiver pintada, sou valente de natureza, carrego dentro do corpo a alma liberta da carne, não, não tente aprisionar meus olhos, meus sentimentos, minhas lagrimas possivelmente lhe afogarão, meu pranto é acido, tanto como meu sorriso é sórdido, sortido, como balas coloridas no pote, com boca estreita, retire uma de cada vez, ou vai sair sem nenhuma. Não me obrigue, me convença. Não tente me conduzir com seus fracos argumentos, conheço sua mascara, destas, eu mesmo fiz. Não tente envergar minha madeira, não quebro, nem pense em aprisionar meu querer, em arrastar minha carcaça pela estrada da sua vaidade, meu peso não lhe cabe, não lhe dou equilíbrio para tal. deixe-me chorar no meu canto escuro, ou sorrir de frente ao sol. deixe-me ir, caminhar, sentir, não digo que voltarei, pois não vou voltar, uma vez com estes pés na estrada, minha alma vai expandir seu querer pelo mundo novamente, sorrir ao azar ou chorar a minha sorte, trocar fluidos, sentimentos, pensamentos, o vácuo de minha solidão que busca apenas a resposta de uma pergunta que ainda não foi elaborada, apenas um vazio que se preenche com a busca do novo passo, do belo e desconhecido caminho. Cala-te boca e não dissimule meus pensamentos, não tente dominar o que não compreende, não perca seu tempo que na verdade é ínfimo dentro de seu pequeno universo resignado a solução obvia e absolutamente ineficaz que faz represa de seu próprio querer e ideias. Não compartilho do seu ponto de vista, nem de sua vista e não me adapto aos seus olhos na verdade, deixe de me ver, não mais me observe, não vou dar sinal neste seu ponto, sua vista não vê o mesmo jardim que vejo. vou tirar minhas rodas do trilho, quero andar descalço agora, sem sapatos ou um teto, apenas caminhar. Sou tudo isso que você não pode entender ou compreender, não lhe culpo, não me culpo, sou assim, você é assim. basta um passo, meu e outro seu, e tudo mudará. O universo tem suas dimensões infinitas dentro de cada passo e decisão tomada, não tente compartilhar sua decisão a minha, sou o homem que não soube e não quis saber, para onde ou porque, sou assim, alma e carcaça. Não tente pensar o porque das coisas, meus calos tem suas historias, minhas mãos as construíram, meu coração as deu incentivo, minha mente fomentou seus alicerces, minha alma, desfez todo o plano e fez relevo de uma vida simples, na verdade, assim preferi, não vou explicar mais, apenas quero seguir, deixo a luz de um novo caminho, ao qual tomei, e ao qual deixei. Não sou da forma que gostaria, não tenho esta forma, formula, fabula, sou eu, assim, sou o que sou.