A Perda dos Sentimentos Puros

- Série Pensamentos ou Tolices.

Boa noite, pois aqui já habita trevas a tempos... Estava passando por tempos em minha mente um tema, é a perda da tolice, a perda dos sentimentos puros de criança.

Eu sempre fui diferente das outras crianças, sempre talvez fui mais imaturo por ser maduro demais, então, fiquei mais relaxado e criei um estilo alternativo e um pouco "andrógeno" por assim dizer... E desde bem pequeno ouvi várias outras pessoas falando: "Bah! se arruma! tem que ficar mais apresentavel para conseguir chegar em fulano ou cliclano!" ou se não "Bah, larga de andar assim, se arruma, penteia esse cabelo direito, bota uma roupa que valorisa mais, e não esses trapos, porque assim só pega gente feia, isso se pegar...hahaha!" E eu sempre fiquei ofendido com isso, não por não conseguir "pegar" ninguém (o que é mentira, de fato), mas pelo fato de tentarem mudar meu jeito de ser... A vestimenta era o de menos, apenas a superfice. Mas, isso é um caso que pensei que com a idade passaria, que as pessoas mais velhas quais convivo agora entenderiam... Eu estava enganado. Uma vez uma prima minha me disse: "Ralph, você é muito sonhador! Deixa disso, chega a ser engraçado e patético".

Mas eu me pergunto... Dê que vale a vida? Só para virar uma máquina de trabalho e sexo? (Denovo meus problemas com o sexo, as vezes acho isso é falta...) Creio eu que não.

Eu não quero nascer, embora já tenha nascido; não quero crescer e virar um adulto perdendo assim esses meus sentimentos puros, essas coisas que ainda me fazem ser eu! Ser esse bobo e tolo Pierrot, crente e descrente no amor e no sonho, quero sim ser este eterno sonhador, mas sinto eu pelas responsabilidades e estresses perdendo isso aos poucos 'numa velocidade assustadora. Não quero me reproduzir, embora não seja mais virgem... Eu não quero deixar herdeiros para esse mundo de desgraça! Não quero me vingar em meus filhos essa falta de dignidade e de liberdade que sofro enquanto jovem! Não quero envelhecer... Quero perecer jovem! Quero morrer louco e herói como eu posso ser... E bem... talvez, bem em meu íntimo eu queira e tema morrer... Pois assim eu teria o alívio e as glórias de poeta e artista, essas que só vem depois que você já está abaixo de sete palmos de terra... Porém eu vejo tudo isso esvaindo-se de mim, professor tolo de linguas, musico frustrado, ator frustrado, diretor, roteirista, poeta e escritor falido... E fodido!

Eu não quero ser como meu pai quer que eu seja, Rei de um império louco a cuidar de negocios e povos, viver e morrer de estresse nessa efêmera cidade onde nasci! Eu não quero, eu optei pelo sonho largando meu império... Eu virei O Trovador! Entretanto, essas responsabilidades e obrigrações que a sociedade tenta me impor e de certa forma conseguem fazendo descer garganta abaixo me corrompem.

Hoje enquanto eu ouvia uma banda de rock japonesa (L'arc~en~ciel) me peguei ouvindo "Dive to blue" uma bela canção por sinal... e nela um trexo, além de vários que por sinal combinaram muito comigo e com meus pensamentos, este em especial me chamou a atenção: "Nanimo kamo ga ochite iku kedo, Kimi dake wa otona ni naranai de"; Traduzindo: "Está tudo tão corrompido, porém eu peço, por favor não se torne uma adulta". Isso foi tão fundo em mim que chorei como a muito não chorava e denovo comecei a indagar o que é um adulto, e por que eles são tão descrentes dos sonhos... Talvez por medo, acreditando talvez que os Sonhos não encham barriga nem bolso e sirvam apenas para "disvirtuar" o homem de seu caminho... Ou talvez as frustrações enquanto jovens tenham sido tantas, que quando chegaram no mercado de trabalho (comprovando que seres humanos são máquinas de trabalho/ mercadorias) que eles esqueceram e foram perdendo aos poucos os sentimentos puros estes tais: O Amor... pelos amigos, pelos homens, pelos humanos, pelas mulheres... Pela natureza... Por tudo! O Sonho, esse meu combustivel bipolar que me deteriora e amplifica a cada instante; A ingenuidade, essa tolice de acreditar nas pessoas e em sua bondade; A própria bondade, a tolice de ser cordial e educado, sempre fazendo o melhor... porém sem esperar embora esperando o melhor dos outros, e quem sabe até o próprio eterno... Por eles serem tão descrentes não acreditam mais nas forças do infinito... Este sempre tão presente em nossos medos e covardias... Esse tão vaiado infinito... O infinito dos amantes! É muito triste ver isso acontecer... E ter a presunção acreditar em saber as razões por que isso acontece... Não vanglorio nenhum governo e nenhum tipo de política, mas descredibilizo muito o captalismo, não ponho a culpa sobre, porém o fato de vivermos para consumir (e para sermos consumidos) tendo apenas importância o que é "util" para a sociedade é muito cruel. Estes fatos e outros não explicitados pioram muito nossa condição de vida, causando assim mais e mais a corrupção com seu miasma consumista, vindo de seus esteriótipos e mercadorias. Eu não quero ser mais importuno do que já sou, apenas peço à vocês um pouco de compreenção, peço-os não para serem iditoas, mas para serem tolos... Não deixem perder vossas tolices! Não deixem-se esvaziar de sentimentos puros! Por favor, não me deixem virar um adulto.

Saudosos e corrompidos cumprimentos,

Ralph Wüf

15 de Abril de 2008

Ralph Wüf
Enviado por Ralph Wüf em 02/04/2009
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