Dois desertos

Separar o que foi fundido é cortar o único em duas partes, nada é mais como antes, cada passo mesmo que em direção ao abismo nos leva a frente, a diante, a vida, a morte, ao caos, a bonança, quem saberá se não for em frente. Não se separa a fusão, duas células, dois átomos, dois corpos, dois mundos, e então, um só universo, e não haveria de ser confuso? Não haveria de ser tumultuado, ou conturbado, afinal, dois navios que se chocam, dois aviões, dois continentes, dois mundos e por fim, dois corpos, falo de beijos, abraços, química explosiva do insaciável, falo de alma, de cultura, de essência, de palavras e silencio, falo de tudo e talvez ainda sobre espaço para o nada, como não seria assim, é fato que todo o universo conspiraria a favor do inevitável, mas como toda força tem seu contra peso, também haveria conspiração em massa da separação do único, uma vez que a reação ao estrondo seria de proporções lonosféricas, acima do pensamentos voluntario ou do desejo intuitivo, apenas em tom brando e leve, seria. Um novo começo, uma nova era, ou o fim de tudo, o breu do pensar em um quarto escuro que não ajuda em nada a esquecer. O que penso agora é que uma vez assim, não há volta, o passo dado, a bala disparada, a palavra dita e alma e vida conclusa e evoluída por seu querer em conjunto a outra alma e vida, não, não há volta. O mundo é feito de vários outros dentro de outros e mais outros, mas uma vida é feita de todo complexo da existência, cada ínfimo grão dela, tem em si, seu incontestável significado, e diga-me então, tantos grãos, um deserto se fez em forma de homem, tantos significados e tamanha solidão do compreender, e se de fato, dois desertos que se encontram e na batida de suas totalidades se abre profundas fendas, onde de principio se faz a separação de territórios e espaços físicos e contextuais, por fim, cada fenda se enche de algo que antes não haveria de pensar em nenhum dos dois desertos, as rachaduras foram tão profundas que trouxeram a tona, água, que então irrigou os dois mundos, e ali, então, se fez a novamente um só mundo, se fez então, a vida.