Talvez, um ultimo suspiro.
Hoje pensei em minha existência. E vi o universo passar por mim em tão extraordinária velocidade que me dei conta que não havia acompanhado minha vida, quanto mais os fatos, constantes ou não que nela havia se estabelecido, passado, vindo de onde e ido para onde? Não sei, apenas senti o sopro quente que vinha como hálito abafado em meu pescoço antecedendo a mordida do futuro que dilaceraria meus sonhos ainda pendentes e engasgados naquela garganta que não mais emitia uma palavra se quer, mas olhos sim, havidos. Em um turbilhão de coisas e fatos, seria ali meu ultimo instante para representar no palco de minha própria existência com apenas eu mesmo a observar introspectivo minha própria apresentação de um único sucesso, minha vida. Se fosse então fato corrido e sem volta, agora, pensaria na grama molhada, no cheiro do mato, no perfume da mulher amada, no toque e no sexo, lembraria te tantos amores, os erros, já estariam cometidos, não os recordaria. Pensaria nas nuvens e no céu, lembraria da companhia ao chão de quem deitou e viu o céu junto, mesmo desacordando formas e moldes, mas lembraria. Teria valido a pena comer tantas coisas exóticas, gostos e sabores, não me contive apenas no arroz e no feijão, soube especular meu nobre paladar. Lembraria não ter sido o mais belo, mas teria certeza de ter tido todos e tantos só meus encantos. Saberia sem erro o quanto fui exigente comigo, displicente com outros, excêntrico e simples, sem cartilha ou bussola que fosse útil a qualquer um. Dos meus animais que tanto amei, do carinho nas costas que tanto gostava, irmãos que amei incondicionalmente, poucos amigos que também amei, e amei mesmo. Não me arrependeria de nada, apenas de saber que meu corpo agora voltaria ao pó. A água, saciar a sede, a chuva, o mar, minha mãe, iemanjá, minhas sobrancelhas, a massagem em meu corpo, o prazer fornecido, a orientação ao mundo, a que tive, a que dei, as que recusei. Não haveria de pensar nos amores recusados, nos que recusei, nos que me foram recusados, nos caminhos brandos, iria sorrir, pois peguei os tempestuosos, choraria, não por tristeza, mas saberia que certo, errado, não importaria, um homem de pensamentos formados se desfaria lentamente ali, em meio a tantas lembranças e memórias, deixaria ao mundo apenas seus sentidos vagos participantes em tantas vidas as quais fez parte efetiva, pintando e compondo quadros e canções as quais quem observaria ou cantasse, não mais saberia o autor, compositor, mas faria parte da continuidade deste homem, eu. Não sei se o tempo que fora mestre de meus delírios contribuiria para tanto. Se não, o simples seria minha base, o básico, o amor, o básico do amor, o amor básico. Em resumo, do puro, na natureza, do ar, do mar, da terra firme que pisei meus pés trêmulos por tantos desajustes e erros, lembraria em meu suspiro, apenas do amor básico. Creio que me sentiria leve, como um transatlântico de guerra, pesado, armado, e voltando de sua missão, nada mais servia tantas armas, táticas, e seu peso, ainda mais leve, apenas com a volta marcada, traria vidas, sonhos, metas, honras e erros, tudo ali naquele fim, nada mais pesaria em toda minha leveza. Minha energia, dissiparia aos quatro cantos onde eles estivessem, e que meu suspiro, fosse ao vento amigo que tanto me contou durante tantos caminhos, suspiraria, e sei, sorriria, talvez fosse apenas um sorriso discreto, mas seria grato a força maior que tanto me permitiu em tão pouco tempo. Conheci o homem que fui e os homens a minha volta mais que muitos me conheceram ou se conheceram. Conheci as mulheres, seus encantos e prazeres, conheci a inocência, a manchei em púrpura ilusão, e deixei o mau solúvel em meu coração que não o assimilou mesmo ainda correndo em minhas veias. E percebi então que minha existência, foi plena, até aqui, onde estou, até cada palavra aqui digitada, descrita, percebi, que amei, fui amado, tomeis todas as decisões que haveria de ter tomado, da forma que fiz, nada foi vão, nada fútil, me tornei alimento ao universo, aos acertos e erros da humanidade, e espero, que de cada sonho meu realizado e não também, haja milhões de sementes prontas a romper a mente de tantos os que deixei, com flores e todas as cores, do verde, do amor básico, da vida e da incondicionalidade, apenas, intensamente, dentro da historia de cada homem e mulher, dentro unicamente, de cada vida e de cada amor. Suspirei agora, pois não foi meu fim no fim deste texto, e ainda sim, tenho mais tempo cedido, pensarei então, mas por hora, farei mais por merecer tudo aqui dito. Que Deus abençoe a vida e o amor, quanto ao resto, é só tomar os cuidados certos com cada jardim, as flores virão em cada tempo necessário, em cada estação que assim pedir, virão, não cessarão, e assim, ainda espero concluir vários ciclos dentro deste meu.