Dilúvio
Quem sabe um dilúvio ainda possa acontecer
Ainda se espera um dilúvio diferente
Não como aquele de Noé, que matou os indesejáveis.
Ainda espero um dilúvio
Um dilúvio de solidariedade
Um dilúvio de amor
Não um dilúvio de caridade e muito menos de filantropia
O mundo precisa é de tolerância
Então, espero um dilúvio que não afogue nem submerja as pessoas
Mas que coloque todas num mesmo nível
Espero um dilúvio de igualdade nas diferenças
Onde cada cultura tem seu jeito e seu lugar
Onde se respeite a peculiaridade de cada povo ou nação
De cada crença e valor
Que a palavra “raças” ceda lugar à palavra espécie humana.
Somos todos da mesma espécie
Então não tem porque brigar.
Mas com tantos muros sendo construído
Desde o Século das Luzes Rousseau vem alertando: as cercas foram invenções de impostores
Criadas para separar. Não se deve permitir que outras sejam levantadas, é preciso derrubar os mourões antes de uma nova cerca vir a existir.
Antes a terra era de todos e ao mesmo tempo de ninguém, os frutos do trabalho eram repartidos sem alguém supostamente mais esperta tirasse proveito disso, mas ai alguém cercou a terra e disse: “isso é meu”. Naquele momento alguém devia ter gritado: “Impostor”!
Alguém devia ter derrubado a primeira cerca inventada, mas por covardia, não se incomodou muito e, quando percebeu..., mais terras haviam sido cercadas.
Apareceu o latrofundiário. Inventei essa palavra, apesar de não ter no dicionário, foi a melhor para expressar minha indignação frente à violência que nos cerca. Latrofundiário é uma espécie de ladrão, alguém que se enriqueceu cercando terras e intitulando-as de propriedade privada.
É por causa dos latrofundiários que a desigualdade surgiu entre os homens. Os países passaram a promover a guerra e a pilhar as riquezas de outros povos...
Os governos tornaram-se intolerantes.
A sociedade passou a ser intolerante. As crianças passaram a serem educadas pela intolerância.
As escolas se formaram com um propósito...
Justificar tais intolerâncias!
Idem às religiões.
As pessoas passaram a ser doutrinadas dentro de religiões intolerantes.
Os conceitos tornaram-se tão intolerantes, que uns passaram ignorar os conceitos dos outros.
É por isso que sonho com um dilúvio...
Um dilúvio cujas águas têm um objetivo:
Ao invés de sufocar os homens, transbordem para além-muros
E os povos que se digladiam se vejam no mesmo nível
Se misturem e acabem com as diferenças.
Que chova um dilúvio...
Que transbordem as águas para além das cercas e eliminem todas as indiferenças.