Quando as águas levam
A palavra pede, o tempo corre e a vida passa. O corpo lembra, a memória tenta esquecer mesmo que a alma peça o contrario e cada vez o sorriso então fica mais raro, tanto quanto diamantes regados a sangue. O pranto alaga as memórias e as coisas seguem em frente como de fato haveria de ser, embarcadas na vida e seguindo seu rumo correnteza a frente. As curvas sinuosas e cheias de declives são naturais do percurso, a barca com suas palavras soltas se desvia do que pode e leva junto as vezes o que não pode. Letras caem pelo caminho a fora, deixando frases ditas desfeitas ao longo deste percurso, momentos viram vagas lembranças no imenso trajeto já percorrido e ainda a seguir. Escolhemos onde parar, não onde ir, pois novos caminhos ainda virão sem parar, sempre, novos lugares, pessoas, emoções e acontecimentos, é assim, o mundo, as coisas, as pessoas, as palavras e até sentimentos. Entendo assim a vida e seus rumos retos e tortos. Vi oceanos de possibilidades, percorri córregos estreitos, rios escondidos e algumas piscinas por ai, e agora, aqui encalhando neste momento, não gostaria de seguir correnteza a frente, de fato, as águas vão me levar junto, não adianta querer, apenas sei do que quero e gosto, e por vezes amo. Levo junto então meu amor, minhas palavras, a vida que fica marcada e já que quis assim, deixo o mundo empurrar sua engrenagem que esmaga o ontem e trás o amanhã, e levar junto o que pode, e se der sorte, deixar o que não pode, e junto, vou indo, deixando também as palavras e lembranças soltas pelo caminho, que se for de sorte, em alguma curva vão se juntar e colar retalhos de tudo que for de bom e melhor e por ali, vou retornar e a pororoca vir, o oceano horas volta adentro de todo rio, e o que estava indo, pode sim vir a voltar, se for assim, saberei o que esperar, afinal, se estava descendo, é porque me soltaram rio abaixo.