Tenho gestos

Tenho gestos, da maneira mais oportunista eu manejo.

Eu surto na sombra, eu corro com um sangue púrpuro.

Na minha mente eu lamento esses dias em que o caos vira ritmo

E pensando nesse ócio eu sigo investindo, como pensante voz.

Meus pulmões, minha pele, minhas mãos, meu toque.

Eu ando por essa rua escura, eu vejo os podres ardores.

De um doente sem causa, eu sento na calçada pra curar essa falta.

É um bêbado que oscila e uma voz que pragueja, gritando.

Por mais que eu pudesse abrir minha visão

Teria quer tapar meus ouvidos pra não ouvir tanta porcaria desalmada

Por onde eu caminho, um rumo sem gloria, sem salto, como meras histórias.

Eu não faço diferença porque sou uma, diante o peso de vários corpos.

Preso num costumeiro desejo egoísta de prevalecer, contra os desapossados.

Eu grito na viagem da democracia, que a tua lei veio de uma bendita bacia.

Cheia de lama negra, eu corro pra não lutar contra quem não posso.

Eu acendo o cigarro pra relevar à contra lei de não pensar no passado

Eu caminho entre mortos que respiram uma vida fúnebre

Entre um e outro espancado, pela tentativa de se curar.

Eu viajo entre uma armadilha de lobos

Eu sou carne, quando o pão falta.

Eu sou pão quando a carne cheira mal

Eu tenho a essência de saber quando não me convém ser refém de mim

Eu pego carona na esquina eu cubro meus olhos com um pano branco

Eu caminho entre pedras e desvencilho chão com pingos de suor

Eu respiro um ar hipócrita, num mundo de esboço com carteira.

Eu pingo a mancha de um preto absoluto, quando me tentam.

Eu faço ser raiz da terra e ela que me queira por cima

Quando eu estendo minha mão, quão benevolência do cristão.

Quando eu levanto meu corpo nu na escuridão

Quem planeja me emprestar um manto branco?

Sagrado seja quem nasce morto pra não viver de incerteza

Porque a vida planta e colhe tua força todos os dias

Eu vivo na sentença de quem me quer bem

Eu vivo na paz dos olhares de quem me fortalece

Eu vivo no podre entre avesso caminho relutante

Não só a cidade, não só o país, não só o lugar.

Eu paro nessas crenças, de tanto arrancar as velas dos locais que sobem cerra.

Eu tenho a voz pra multidão com o contato exato, do meu contexto.

Por onde eu for eu sou o dom

Do grito, da pura dor de ser cantora.

De ser artista e propagadora da crítica

b_jsg
Enviado por b_jsg em 28/11/2008
Reeditado em 28/11/2008
Código do texto: T1307346
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