Cartas Sóbrias II - À Amada
Amada,
Apesar de não demonstrar com tanta euforia, amo-te como se não houvesse o tempo. Como se a vida fosse apenas um segundo, e, neste segundo, as trombetas mais angelicais soaram em meus ouvidos. Talvez as harpas mais belas, talvez os celos mais encorpados tocaram em meus ouvidos. E, neste segundo, nada mais se ouvia, além desta bela melodia.
Entretanto, o êxtase vivia gritando em minha mente e, diminuído pela razão, era obrigado a ficar nesta masmorra, escapando apenas nos mais sinceros olhares, nos mais singelos toques, nos mais afetuosos abraços. Barrado pelo bruto guarda da razão, apenas nos mais belos sonhos se mostrava, como a harmoniosa melodia que eu escutava.
Querida, amo-te tanto, que, ao ponto de querer a tua felicidade (que também é a minha), faço decisão à tua face, e decreto como lei a tua vontade. Abandono o bardo aos teus pés, e declamo-me como o menestrel sem rumo, cujos atos, outrora guiados perante a tua dama, como libertos de tua majestade, e seguirão apenas a noite cor de sable.
Talvez assim, tu sendo feliz, posso sentir-me feliz. Ri na tua felicidade, e chorei no teu pranto. Senti contigo sua angústia, e contive minhas ânsias. Tudo para sentir-me feliz. Fui feliz. Espero que também o sejas.