Cartas Sóbrias I - Aos Casais
"Não tenho o costume de cumprimentar os casais. Mesmo sendo conhecidos, amigos ou parentes. Se o faço, apenas tenho como obrigação ou cordialidade. Mas não gosto de cumprimentá-los.
Não que eu seja egoista ou esnobe. Muito menos os invejo. Apenas não gosto de interromper o sublime momento em que estão juntos. Há uma linha tênue entre a cordialidade e a repulsa numa resposta.
Os casais, quando juntos, se divertem com jogos mímicos e com brincadeiras que apenas eles conhecem. Não é justo que se interrompa este momento, onde o que apenas querem é ter um ao outro. Da mesma forma, talvez sintam-se sem graça, ao me ver solo. Não se deve arriscar um malgrado deste tipo.
Também não penso que seja justo, quando se tem um momento de alegria, manchar este momento com a tristeza que parte das minhas palavras. Não é justo que percam uma parte do extase em que se encontram, e que nunca se recupera novamente.
Enfim, não me costumo cumprimentar os casais. Não gosto de destruir a felicidade com que vivem, nem destruir seus brinquedos mímicos, que, apesar de serem invisíveis, são tão belos...