Som

Som

Zombam os ruídos de um dia frio, embora esteja sol do lado de fora. Dentro, tudo é mais perturbado. A busca pelo perfeito claro e singelo é sempre dificultada por todos os grandes obstáculos que se encontram no caminho para o outro lado, principalmente pelo barulho. Vozes, gritos agitados que penetram nos ouvidos e seguem o caminho da alma, junto as pancadas, molas ruindo, arrastões e pisadas, que confundem cada vez mais e deixam cada vez mais nervosa e aturdida, clamando para um toque do silêncio. O silêncio é tudo o que ela quer ouvir agora. Para poder ouvir dentro, tem que primeiro extinguir fora.

Um berro. É o que vai interromper o barulho, corrompê-lo, torná-lo um barulho acanhado, remorso em seus próprios silêncios. Um berro vai assustar e causar espanto, e é nesse segundo de espanto, em que todos param para ver o que está acontecendo, em que todos ficam imóveis espreitando o próximo golpe, vai haver o momento tão desejado, tão esperado. O encontro do dentro a partir do fora, de dentro para fora num piscar de olhos, é tudo o que precisa. Precisa sair, libertar-se, arrancar de dentro o que incomoda, todos os barulhos que vinham de fora. Os flashes que, agora sabe, depois de um segundo de espanto, depois de um berro e um soco, se misturavam na atmosfera que a confundia e aturdia, de dentro e fora, fora e dentro, para saber que a única forma de se livrar era o silêncio. Silêncio mórbido e só, na escuridão dos seus pensamentos mais profundos.

Giovanna Carloni
Enviado por Giovanna Carloni em 26/07/2008
Código do texto: T1098502
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.