30 — Qual é o propósito

Estou aqui neste lugar frio, a igreja é agradável, os irmãos são receptivos, cultuar e pastorear aqui esta sendo uma benção. No entanto o meu coração esta no Brasil. Minha filha, minha princesinha além de grávida esta com uma grave doença. Estou ajoelhado antes de começar o culto clamando, querendo entender o propósito de estar aqui tão longe, minha filha necessitando de mim dos meus cuidados do meu aparo. Senhor me faça entender, quais são seus planos para a minha vida! Sou um pastor, tenho esse compromisso com as ovelhas. Mas quando a ovelha que mais necessita de cuidados é a minha própria filha?
O culto foi no automático, Deus sabe da minha preocupação, mesmo que tentasse ser forte com sorrisos amistáveis para todos aqueles estranhos irmãos com nomes quase que impronunciáveis, Deus me conhece na intimidade, e Ele sabe bem meus questionamentos, A minha oração hoje é: -Senhor cuida da minha filha e do meu neto, não deixe que ela sofra pai eterno. Livra ela deste mal.
***
Olho para esse doutor essa psicologa, e os meus familiares, que estão me olhando com olhares de comoção. Passo a mão no meu ventre, uma vida habita aqui. Sinto como se a minha vida estivesse se exaurindo aos poucos, reuniram todos aqui para me passar uma noticia, a psicologa me disse que por conta do tratamento, eu deveria fazer uma importante escolha, ela não quis contar qual seria esta escolha. Preocupei-me mas fiquei em silêncio, sentia uma fraqueza inexplicável antes deste triste diagnostico agora parece-me que sinto todos os meus ossos pesados, não sei dizer se é por causa dos medicamentos mas também sinto dores em todo o corpo.
Olho a minha mãe, mas logo sinto saudade do meu pai, choro, pois ele não esta aqui presente, ele saberia dizer uma palavra de consolo, ele saberia passar as mãos nos meus cabelos e dizer: -Calma pequena vai dar tudo bem, isto logo vai passar. Mas ele não esta aqui, mesmo rodeado de pessoas de amigos e acreditem até do Thomaz, é do meu pai que sinto mais falta. Sei que não posso ser egoísta, sei também que é necessário a presença dele na igreja que pastoreia. Mas eu também sou uma ovelhinha? Estou desesperada, não sei qual será o meu futuro. Sei sim que essa notícia não é nada da boa. A propósito saber que esta com leucemia não é nada legal.
-Lara, reunimos todos aqui, para te passar uma importante notícia sobre o seu tratamento, por ter dezessete anos, vejo aqui que quase completando dezoito anos quem é responsável por você é a sua mãe, mas a decisão é pessoal, por isto estarei anunciando aqui próximo dos seus familiares e você terá como pedir para a sua mãe respeitar a sua decisão seja qual for ela.
O doutor falava daquele modo deixava-me apreensiva, sentia que era algo terrível que deveria decidir, pedi um pouco de água, a garganta estava seca. Minha mãe a Lorena e o Thomaz estavam presentes quietos imóveis isto estava me atemorizando mais e mais.
-Você sabe muito bem o que é uma quimioterapia não é? E o doutor explicou todo o processo, disse que era o melhor a fazer, enquanto os resultados favoráveis para uma medula ósseo não chegavam.
Disse que o corpo sofre bastante, no entanto, abdicar deste tratamento torna o corpo frágil, disse também que a leucemia se alastra de modo assustador pelo corpo, células saudáveis estão tornando-se doentes neste exato momento aí dentro de você precisamos agir rápido.
Olhava para a minha mãe, que até então calada, colocou a mão no queixo e começou a chorar, o que seria que o doutor queria me dizer ela já sabia, ela estava tremula, parecia que estava doendo nela mais que em mim.
Então querida Lara, agora a psicologa assumia a conversa, é por isso que estamos aqui para te passar essa notícia.
E começou a falar o que para mim foi a notícia mais triste da minha vida.
-Se você optar pela melhor opção que é o tratamento, que envolve a quimioterapia, a chance de cura, aumentará consideravelmente, você sentirá vários efeitos colaterais, e depois deste tratamento intensivo poderá se ver livre desta moléstia.
Olhei para el, sorri, foi difícil esboçar aquele sorriso, não entendia minha mãe continuava chorando, agora descontrolada a Lorena abraçava ela.
-Claro que quero estar curada, é obvio que aceito passar por esse tipo de tratamento. Olhava para a mãe e não entendia, não era pra chorar, era pra sorrir, a doutora psicologa estava demonstrando ótimas notícias, era passar pela quimioterapia e estaria curada.
Voltou a conversa o Doutor, este mais frio e objetivo, falou exatamente o que a Dona Neide e Lorena sabiam e entristeciam-lhe profundamente o coração de pesar.
-No entanto, um tratamento tão evasivo e progressivo, onde afetará muitos medicamentos, envolverá num aborto espontâneo do feto, ainda mais em estágio avançado de seis meses de gravidez.
Aquelas palavras do doutor, seguiam pelos meus pensamentos, fiquei calada, sem pensar no que dizer, passei a mão no meu ventre, o Davizinho estava ali dentro calmo e sereno, sem nada imaginar daquilo que estava ouvindo, ele que a tempos quase me vi livre naquela horrenda clinica de aborto, ele que me fez ter um novo motivo de viver, ele meu amado filhinho..
-Fale alguma coisa filha, disse a minha querida mãe.
-Fale amiga, disse a Lorena.
-Fale Lara, desta vez era o Thomaz que segurava em mim e tentava fazer eu retomar os sentidos.
A psicologa observava-me, e eu em silêncio, até tentava falar não conseguia, ela pediu para todos se retirarem do quarto, e prontamente todos saiam silenciosamente.
Me vi envolta aquela sala totalmente branca, a psicologa buscou uma cadeira e sentou ao meu lado, deixou-me quieta em silêncio, era eu e ela. Passei as mãos no meu ventre, assegurando-me que meu filho estava dentro de mim. Estava, era a minha vida que apalpava com carinho, envolto em minhas mãos.
A psicologa falou: -Agora trata-se da sua vida querida Lara, você precisa pensar na sua saúde, seu tratamento precisa iniciar urgentemente, e esta importante decisão você precisa tomar.
Olhava as palavras daquela doutora, sentia que ela estava dizendo o que eu realmente precisava fazer, mas era o meu filhinho que estava no meu ventre, dele nunca na minha vida abriria mão, ele era um dependente, ele não sabia e não poderia decidir nada. O choro foi inevitável, descia a lágrima do rosto que senti o amargo na boca.
-Fale Lara, qual é a sua decisão:-Passar pelo tratamento, ter esperança de vida, com um tratamento intenso, ou abdicar deste tratamento e tentar dar vida ao seu filho mesmo que para isto você tenha que sacrificar a sua própria vida.
Escutei o que aquela moça disse: -Ela estava sendo objetiva igual o doutor, indo direto ao ponto. Mas eu só queria o meu pai. ..
Chorei:-Quero o meu pai, por favor tragam meu pai aqui. e vieram as enfermeiras e aplicaram-me uma injeção logo sedada, olhava para o auto e tudo tornava-se branco...
Waldryano
Enviado por Waldryano em 03/08/2019
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