03 — Esperando na Janela


Deitada na minha cama escutando música no fone de ouvidos, no meu quarto eu posso tudo sem meus pais para me regrar. Olho para o teto e as palavras da Lorena Ecoam na minha mente:

— Grávida, como assim?

Foi só uma vez e nunca mais, só depois de casar. Foi um deslize? Foi, mas não caio no mesmo erro. É que o Tomais me deixa fora do ar, seus olhos me desconcertam... E ele, por que será que não ligou e não retornou minha mensagem? Veio à minha mãe e fez um aceno na minha mão e retira-me daquele pensamento:

— Abaixe esse som menina, que vai estourar seus tímpanos. Quer ficar surda?

Que hino é esse para você estar escutando neste volume?

Respondi rispidamente, estávamos brigadas e dava um gelo nela:

— Tá...

E abaixei o volume, nem prestava a atenção na música que tocava em uma estação de rádio aleatória que escolhi.

— Vai na igreja hoje?

Pergunta a minha mãe agora com um tom de voz mais doce. Então pego meu travesseiro e viro para o outro lado da cama e respondo com um sonoro:

— Não. Estou com dor de cabeça, naqueles dias, disse assim (estava nada, mas foi a melhor desculpa que colaria)

— Vamos Lara a Lorena também vai... Pense aí filha e foi saindo a dona Neide se trocar, e eu? Aumentei novamente o som, mesmo assim foi possível escutar a campainha tocar. Era a Lorena, minha mãe voltou ao quarto pedindo para ir recepcionar ela, não quis.

— Fale que estou no banheiro.

Por sorte minha mãe não insistiu. Ela falou:

— Então prepare a sua mensagem, lembre-se que o culto especial da juventude é na quarta-feira. Sim lembrei que era eu a pregadora daquele dia e esta seria a segunda mensagem da minha vida. Agora sozinha, minhas preocupações voltaram, levantei ligeiramente das cobertas e corri para o computador, as duas lá embaixo estavam saindo, eu escutei até a Lorena me dar tchau. Se eu estivesse ido, iria ficar ouvindo ela falar sem parar do seu noivado e estava sem paciência para isto. Olhei para o celular, novamente, a esperança de ver uma mensagem de texto ou até mesmo uma ligação do Thomaz e nada.

Fui na janela olhar na esquina, vai que vejo ele, cada coisa que passa na mente da gente... Nada, no celular disco o número, agora tomo coragem vou ligar... Apertei. Um, dois, três e ... desesperadamente desliguei.

— Esquece pense na mensagem.

Foi o que fiz. Radicalizei e desliguei o celular e fui pra frente do computador, depois daquela passeada pela rede social voltei para a mensagem, escrevi no site de pesquisa: — Mensagem para jovens. Fui na terceira busca, o tema da mensagem era bem interessante: Era Esperar.

Dei uma folhada na página e vi que era boa, liguei a impressora e imprimi, três páginas. Deitei novamente na minha cama e comecei a estudar, olhei para o celular, não resisti, liguei novamente, vai que ele liga...

Levantei, fui novamente na janela olhar o horizonte na esperança de ver o Thomaz. Voltei a deitar, lia e relia a mensagem para fixar bem, e tentar esquecer o meu deslize de sábado. A mensagem era perfeita e sono foi chegando e eu fui me entregando e logo dormi...

Uma ligação, meu Deus que vergonha...

Já acordada lavei o rosto me troquei e fui tomar café da manhã. Reunidos todos na mesa como de costume, meu pai orou, neste momento eu abri os olhos e observava ele e minha mãe. Veio até um pensamento de dizer ali mesmo na mesa de café que no sábado à noite tinha me entregado ao Thomaz na casa da Carla. Bobagem. Se dissesse acho que teria a minha primeira surra na vida e seria muita decepção, eu até me via sendo expulsa de casa...

Já finalizando a oração fingi estar orando também, estava uma pilha de pensamentos, estava até meio fora de mim, meu pai me olhou e perguntou-me, confesso que estremeci:

— Filha sua mãe falou que você anda meio tensa e estranha, também não te vi no culto ontem... Sentimos a sua falta.

Olhei para ele, mas evitava olhar nos olhos e respondi:

— Ah, sim pai, estava com dor de cabeça coisa de mulher, e ele deu uma risadinha e completou.

— Mas você é uma menina, minha menina e continuou a tomar o seu café. Ficava olhando ele e a mãe tentando verificar se os dois desconfiavam de alguma coisa, de repente eles param a conversa (eles estavam falando sobre a disputa para presidir o conselho de pastores regional) e meu pai fala comigo:

— Seu nervosismo Lara é por causa da mensagem que vai passar para os jovens? Entendo, estude a Bíblia que tudo dará certo.

Termino de tomar café e meu pai como sempre fazia deu um beijo na testa da mãe e outro em mim e disse: — Minhas meninas, agora deixe eu ir que o dia será longo.

E o tempo passou, as minhas preocupações só aumentavam o bendito do Thomaz tomou um chá de sumiço que me preocupava não via ele na escola nem respondia minhas mensagens. — Pense? Já era quarta feira e nada dele dar as caras! Será que ele está envergonhado? Mas tudo foi perfeito! Lógico que aquele lugar não era ideal, a casa da Carla. Aí meu Senhor, que loucura que eu fiz, devia ter guardado meu corpo para o meu futuro marido...

Deixe eu ler mais uma vez meu esboço é hoje a minha mensagem. Mas antes não me aguento, vou ligar pra ele, três dias é demais! Ele não pode me tratar assim! Ele disse que me amava... Quero ouvir a voz dele nem que seja pra depois desligar. Desta vez vou ligar no telefone fixo na casa dele pois já cansei de mandar mensagens no celular e ele não retornar, deixe eu ver....

A sim, aqui está, no quarto com o telefone sem fio é mais tranquilo, vou resolver isso.

Disco. Toca. Uma, duas, três ... — Meu Senhor atende!

— Alô quem fala? É da casa do Thomaz? A Senhora é a mãe dele (que vergonha nem conheço a mãe dele) A Senhora poderia chamar o Thomaz gostaria falar com ele. Quem Gostaria?

 
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Waldryano
Enviado por Waldryano em 22/07/2019
Reeditado em 24/07/2019
Código do texto: T6702133
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