E Assim Nasceu o Presépio
Conta a tradição que São Francisco de Assis teria sido o inventor do Presépio. Tal fato se baseia na narração de um trecho da vida do santo escrita por Tomás de Celano. De acordo com o referido biógrafo, no ano de 1223, o Santo de Assis, estando na cidade italiana de Greccio, quinze dias antes do Natal, pediu a um nobre da região, chamado João, que organizasse os preparativos do Natal. Pois, São Francisco queria “lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro" (1 Cel 84). E o nobre João não perdeu tempo em realizar tudo o que o santo lhe havia pedido.
Assim, “veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os irmãos” (1 Cel 84). Para a ocasião vieram homens e mulheres de todos os cantos empunhando tochas que iluminaram a noite do lugarejo. ”Por fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.
A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava” (1 Cel 85). O santo ficou o tempo todo diante do presépio suspirando repleto de piedade e alegria.
Ali mesmo no presépio, São Francisco pediu para que fosse celebrada solenemente a missa. O sacerdote que presidiu a missa sentiu uma grande consolação no coração. O próprio santo de Assis cantou o Evangelho com voz forte e vibrante, de tal modo que todos se sentiram convidados à renovarem sua alegria. Depois da proclamação do Evangelho, São Francisco “pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém” (1 Cel 86). O nome Belém ressoava na boca de São Francisco com tamanha doçura e humildade que parecia o balido de ovelhas. O santo, ao pronunciar o Santíssimo nome de Jesus, parecia estar mordendo um favo de mel, do qual as palavras escorriam lentamente pelos seus lábios.
Um dos participantes da celebração eucarística chegou a ter uma visão, na qual pareceu “ver deitado no presépio um bebê sem vida, que despertou quando o santo chegou perto” (1 Cel 86). Essa visão demonstra bem o sentido do Presépio: ressuscitar no coração dos homens a marca e a lembrança do amor de Deus manifestado ao mundo na pobreza e na singeleza do feliz despertar de uma criança.
Diante do que foi até agora escrito, pode até ser que São Francisco não tenha inventado o presépio, mas, é certo que, depois daquela noite de Natal de 1223, os nossos olhos se abriram mais profundamente para o mistério do Menino de Belém; para o mistério do Deus que se faz carne e vem habitar entre nós (Cf. Jo 1,14).