Em nome de Deus...
Do Filho, do Espírito Santo, amém!
Arrumou-se dentro de um vistoso vestido largo, florido e longo que descia até os joelhos. No dia anterior alisou os cabelos com chapinha a frio; também no dia anterior pintara as unhas com esmalte cor leve. Se viu várias vezes no espelho. Sempre idealizou a beleza recatada. Terminado os ajustes, desceu a ladeira.
Dobrou os joelhos no piso de cimento queimado e a cabeça, na cadeira de plástico. Entoou cânticos de louvor. Ouviu o culto com máxima atenção, cuja homilia foi sobre o Sermão dado pelo filho de Deus no Monte das Oliveiras. Refletiram todos. Saudaram-se com a paz do Senhor.
Terminado o culto, reuniu a irmandade para comentar a vida dos irmãos ausentes à reunião. Mais que necessário, afinal, acabaram de ouvir as pregações, as peregrinações e os modos de vida de Pai e Filho.
Assim feito, não restou mais nada a fazer naquela manhã, pois haviam falado também do modo de vida do próximo, quando não está próximo; óbvio. Pela segunda vez, cumprimentaram-se em nome de Deus.
Saos e salvos, botaram as Bíblias debaixo da axilas direitas e rumaram-se para casa.
"Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam. Salmos 78:36
"Guarda a tua língua do mal e os teus lábios, de falarem enganosamente. Salmo 34:13
Infelizmente, na noite do dia do culto a garagem foi incendiada. Estão apurando se o motivo foi vela acesa ou ação humana premeditada. Lamentosos pelo fato ocorrido na casa de Deus, estão decidindo onde serão realizadas as próximas reuniões.
Eu, você aí, sambarei mais essa noite, Aqui!
Dorme até por volta das 14 horas. Descansa a tarde. Aprecia a aragem da noite com moderação. Viu de perto chegar o novo dia.
Por volta de meia-noite, inicia as atividades: acende uma vela e na vela, acende o baseado. Traga fundo, iluminando a casa.
Ao notar o efeito da anestesia, intensifica os trabalhos: batuca na mesa, caminha pelo corredor, chaveia a porta da sala, fecha e abre janelas, bate portas e tampa de vaso sanitário, urina à cada meia hora, recorre a geladeira e o armário atrás de rango e uma birita. E assoviando músicas de Zeca Pagodinho, Originais do Samba, Jorge Aragão e Bezerra da Silva, nunca está triste; ao contrário, alegria contagiante.
E de desfile em desfile no corredor do lar, o carnaval de todo dia feito com utensílios domésticos, ou melhor, de toda noite e fora de hora, esvai-se. Sambado e em transe, repousa o corpo na cama. Vestido com uma camiseta, na qual lê a inscrição: "trabalharei amanhã, mas somente se Eu acordar bem humorado", com a fantasia e tudo, dorme feito imensa pedra. Com problemas respiratórios ronca alto a cuíca denominada apneia.
Em breve estará no corredor do samba, (re)nova mente. Para isso, não mede esforços.