Quando a Ciência não Resolve

- Êpa, distância; mantenha distância...; e por cima, sem máscara? Distância, o bicho tá pegando; só por aqui, ele está catando os tutanos de, aproximadamente 2 mil todo dia!

- sim, sim entendo. Ficarei 100m longe de você. Ao invés de álcool gel, ando com a trena no bolso

- sem exagero. 3m bastam; por sinal está acima do recomendado pela OMS e protocolos de higiene sanitária. Não tens acompanhado nos noticiários; falam sobre isso, até nos botecos.

- tudo bem, mas Eu prefiro 100m; que é a recomendação da ciência odontológica, para os casos de quem tem refluxo e gases estomacais, causando baita mal hálito bucal. Esse diabo não me larga!

- não, o melhor é sumir de minha frente.

- tentei, mas nem a ciência resolvem os problemas de intolerância!

- mais vale a inimizade, que aturar o mal hálito do amigo.

- discriminação é motivo de processo judicial; sabia?

- fui aprovado na OAB semana passada. Tenho que me defender, pois mal hálito e podridão não faltam neste país.

P.S.: vai curona, mistura de curintia com corona.

Motociata: O berro dos que não perdem a Fé

Cap. I: Dia de Greve Geral (Free Lula)

Século passado. Década dos idos anos 80.

Ela parou e espiou o firmamento. Escornou o corpo sobre o braço direito; o qual apoiara no peitoril. Aproveitando o ensejo, como a mão esquerda estava livre, usou-a para puxar a carteira de tabaco em um dos bolsos traseiros da calça jeans surrada.

Após tirar um, dos 20 cigarretes, levou-o à boca. Os lábios gemiam de prazer. Riscou a binga, que entendeu o requerido. Não negou fogo.

Como se fosse a última, deu uma longa e demorada tragada. Incendiou a boca. Esperando pela vez deles de serem incenciados pelo rolo de nicotina misturado na fumaça densa, que berrou de prazer foram os pulmões. Pitar um cigarrinho é morte lenta e gradual; pois sabia que ninguém será selecionado, afinal, não seria Ela uma semente.

Ouvira do médico especialista nesse órgão, que os dEla estavam pretos, feito fundo de coador de pano de muitos anos uso. Sincera e honesta, não estava nem aí para diagnóstico médico; queria mesmo era lançar anéis de fumaça na atmosfera.

Dizia para quem a ouvisse, que matar ou morrer, é lei natural. Pigarreou...; pigarreou novamente, seguido de uma limpeza de gargante. Trouxe dos pulmões uma bolota amarela/cinzenta de catarro. Correu para lança-la no latão de lixo. Não deu tempo...

Pondo-se apoiada nos dois pés, meteu a mão no outro bolso traseiro da calça e de lá, tirou o telefone celular. Havia uns restos de créditos. Conseguiu acionar a net. Conectou direta e reta com Zapp. Suspirou fundo de satisfação. Sabia que o diabo eletrônico, o bom e necessário diabo eletrônico, como o chamava, dominava seus impulsos e sentidos. Por tudo isso e mais um bocado, ama-o, mais que amou seus muitos e variados estilos de homens; alguns deles, dizia ser seus maridos.

Enquanto lia as notícias e fofocas dos amigos naquela manhã, a vassoura, o rodo, o balde com água de sabão e os demais produtos de limpeza, só espiavam. Calados; mudos.

Depois de 20 min de paralisação, retomou as atividades. Trabalhando de cara amarrada, pensou: "tudo por conta do patrão. O sujeito é capitalista, sem base. Daqui à pouco paro novamente para responder as mensagens".

Deveras, desde a zero hora daquele dia, mobilizada pelos sindicatos de classes, estava acontecendo de Norte à Sul, Leste a Oeste do país, uma greve geral dos operários de limpeza e classes afins.

Até àquele instante, a greve contava com 99% de adesão dos trabalhadores; que não perdiam a oportunidade de berrar: "Free Lula; Free Lula, já; ahora, now, agora"; que comandados pelas cúpulas sindicalistas, receberam fino e sofisticado treinamento. Inclusive, em espanhol e inglês.

- no to the genocide. - diga não ao genocida, em português.

Regida pela maestrina vassoura, entre palavras de ordem que saíam de sua boca e os esfregões no piso da fábrica, ouvia o bem-ti-vi na antena. Atacada por Carlos Drummond de Andrade, versou:

"bem-ti-vi, pardal e pombo;

Feito gente trabalhadora,

Penoso popular.

Sempre em pé,

Deus nos livre de tombo.

Arrulham, atacam, guincham,

Vassouras sassaricam,

Em qualquer antena,

Deixam o rastro do brilho,

Em qualquer rodoviária,

Em qualquer lugar.

Também nos escritórios,

Édipos atacam nessa quarentena.

CPI da Covid no parlamento;

Nas ruas: zunzunzum;

Fora Bolsonaro genocida,

Batem-bocas,

Copa América,

Balaio de gatos,

Haja falatório insensato;

Votar é para as mulas,

Cavalos, éguas,

Jegues e jumentos.

Parou de varrer: "essa praga de país é bordel de muitos pistolões, caralhos e rachadinhas no poder; e nada de vassoura e boceta. Picaretas, vão todos vocês, se foder. Agora inventaram a tal motociata; na qual os idiotas e puxa-sacos buzinam atrás do patrão mor e magnata. A estupidez humana vem de séculos" - postou seu desabafo político em seu perfil; e foi responder as mensagens.

Em determinado instante gargalhou da sonora tolice de falar pelos cotovelos; mas seja como for, gostaria que todo dia, seja feito por Greve Geral, recitado em poesia.

- aos que alimentam-se do suor alheio, o diabo que os carregue para um inferno distante.

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/06/13/vacina-dos-garis-entro-em-greve-para-nao-morrer-mais-ninguem.htm

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 06/06/2021
Reeditado em 17/06/2021
Código do texto: T7272547
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