Cercas e Cercados
De um lado estrada, do casebre coberto pelo telhado enfumaçado, pendem-se duas janelas e uma porta. O tempo tratou de desaprumá-las. Ao fundo, ora cheio, ora vazio, corre um rio de águas endemoniadas, perfurando barrancos e pedras.
No casebre residem duas pessoas em forma de bicho, usando focinheiras e perucas descabeladas. Tagarelando e rosnando lado a lado sem parar, seis inseparáveis cães sarnentos com lenços amarrados no pescoço. Por vezes, o alarido vindo da cada se perde com os roncos vorazes e intrépidos dos porcos no chiqueiro; que fica um pouco acima do regato de águas paradas e fétidas. Troços de merdas mergulham, descem e sobem à superfície. Não afogam nunca. Moscas varejeiras e mosquitos surfam nesse mar sem ondas.
Uma boa alma trata dos cães com restos de comida; a qual, predomina um caldeirão de macarrão descolorido.
Do outro lado da estrada, com a cabeça por cima da cerca de arame farpado, um cavalo relincha, resfolega, bate as patas, enciumado.
Se fosse um pouco inteligente e tivesse o dom de pensar, pensaria: "Em que lado estrada e qual cerca ou cerdado é menos ruim a vida animal?
A resposta viria dos que são cegos, mas não são surdos, portanto advinham pensamentos: "não é necessário ser cartomante, vidente ou coisa parecida para saber que desgraça pouca é tolice. Fazendo-me entender e abrindo o jogo, vive-se melhor, quem não vê a vida que se leva. Somos ienas desfrutando a transcendência da ilusão; e tomara Deus que não vivamos à realidade de enxergar, nunca".
P.S : segundo a Covid-19, quem tem o reto furado, para o sólido comboio não tencionar as tripas, deve comer menos alimentos gordurosos e proteínados; pois fato é que morre-se de várias maneiras, logo ela será a culpada.