Conto Sobre 1 Quarentena
A Covid-19, rendendo-se à ciência, escafedeu-se. Sumiu antes do combinado, motivo de Stella Maris, codinominada de Estrela dos Mares, ter retornado à cidade grande. Era lá que pensava seu mundo grande, imenso mundo, feito as águas dos oceanos.
Seus olhos retornariam às letras e a mente, às bio-humanas. Na área biológica, aliada às humanas, sabia tudo; ou quase tudo, como humildemente, dizia. Inglês, recitava as palavras, solentrando-as. Stella é um colosso de carne, ossos e de intelectualidade, um abismo.
Porém, como determina os pepsicólogos desde a era dos subjetivistas Moreno e Freud, o homem é dotado de 2 hemisférios: um subjetivo e outro, objetivo; o qual era contraproducente para Mares, pois era péssima em números, a ponto de não operar com o elementar da matemática, que é a aritmética.
Retornando à cidade grande, cheia de arranha-céu, poluição no horizonte, pancadões e danças escandalosas em favelas e confluências de ruas, foguetório comunicando a chegada das drogas ao porto seguro, corpos violados de madames, valsando em cima dos tamancos salto 15, sirenes de ambulâncias e viaturas de polícia, foi readaptando-se aos costumes citadinos; e uma deles é manter o corpo e a beleza em dia, pois infeliz daquele que for vencido pelo dinheiro, ego e vaidade.
Logo de início, foi ao cabelereiro retocar as pontas quebradiças e secas dos cabelos. Estando lá, aparou e reavivou as unhas com o mais nobre esmalte; pequenos detalhes, mas eminente alimento para a beleza egóica de Mares.
À continuação, marcou consulta com seu médico. Lá esteve; e recebera o diagnóstico que, fora as 600 mil miligramas que lhe eram peculiar e direito, havia ganhado mais 120,5% à mais de massa adiposa. Como números para Ela era assunto de matemáticos, nem ligou. Dando de ombros, fez um "O" com os beiços e ignorou por completo a expressão: dc = M / P. Sendo dc - densidade corporal.
Ao preparar-se para as festas de fim de ano, recorreu ao espelho para saber dele, como estava sua beleza. Não gostou do que viu. Lembrou-se do diagnóstico médico.
Passado às festas, colocou os pés na estrada. Aos trancos, assaduras e empurrões, sentia-se feliz pelos 45min de caminhada diária; preferencialmente de manhãnzinha, horário de menos canudos de fumaça e berros por socorro.
Certa ocasião, ao cruzar com um anarquista estúpido e infeliz, ouviu: "caminhe, pois a estrada é longa; e ninguém poderá chegar ao fim dela, por ninguém".
E após uma gargalhada sarcástica, concluiu: "caminhe, pratique esporte e entenda um pouco os números, um dia você vai precisar, nem que seja para correr da corrupção acachapante praticada no país; porque a Covid, com seus bem delineados números e curvas estatísticas, covardou-se. Os números governam, mandam e desmandam no mundo".
E fininho, lépido, rápido e rasteiro feito corisco, sumiu na curva, atrás das montanhas. A próxima parada, que seria na Cidade dos Prazeres, que distava 37.153 cm dalí, estava prevista para mais 3h de caminhada a passos de aproximadamente, 971mm. Enquanto não chegava ao destino, caminhava pensando quão pequeno é o Planeta para quem tem pernas curtas; e adiposos de pecados, dentre eles, o da gula, considerado o algoz da mortandade de peixes.