Ensinamentos
Estava ali, na esquina. Toda espigadinha, vestidinha de panos recém tirados da canastra, cheirando vestes novas, batom nos beiços e a Bíblia na mão. Pensando que ela iria para a igreja e não ao açougue, como costume, disse: "Deus seja louvado".
- sempre. - ela respondeu.
Indaguei se estaria esperando um Uber, ao que ela respondeu: "Uber não, meus amigos".
- ô glória ter bons e fiéis amigos. Deve ser companhia melhor que dinheiro no bolso.
- é verdade! - respondeu.
O carro chegou. Ela caminhou em direção à porta. Uma senhora levantou-se do banco do passageiro e abriu a porta detrás para a religiosa.
- estou enfestado de pecados. Preciso de reza; a senhora reza para mim e por mim? Ajude-me livrar desses males mundanos. - perguntei e ao mesmo tempo revelei minhas fraquezas, todo eufórico.
- nós não rezamos, senhor! Nós oramos e a irmã irá orar pelo senhor; temos certeza.
- ô glória ter amigos fiéis e humanos. - disse.
O carro acelerou. Eles foram-se para mais um culto dominical. Nunca mais esquecerei que essa amiga não reza; e sim, ora. Numa próxima oportunidade, pedirei para ela me explicar a diferença entre orar e rezar; mas de antemão, Deus perdõe-me por tamanha ignorância.