Feliz Ano Velho
Mesa posta; ou melhor, banquete servido. Em tempos de crise e desemprego, comemorando as festas de fim de ano em mesa redonda, os Cavaleiros da Tavola, ou se queira, família Santos Silva, fez a primeira retrospectiva do ano em curso.
No extremo da mesa, a matriarca, dona do lar e lavadeira, disse: "cada um com suas escolhas; nós escolhemos ser felizes". No outro extremo, seu Lourenço, que honestamente ganha o pão de todos trabalhando de sapateiro e lenhador, bradou: "cada coisa e cada conquista em seu devido tempo. Demorou mas o que era nosso, foi nos dado". Disse do barraco que ganhou no sorteio feito no mês de outubro pela Prefeitura.
Em festa solene e emocionante, a Prefeita do município de São José dos Jumentos entregou as chaves aos sorteados. Em lágrimas, dona Dora exclamou: "choro, estou em prantos derramando lágrimas por saber que uns muitos prometem e outros poucos políticos realizam. Muito obrigado, Prefeita; que Deus a abençõe. Como gostaria de poder chamá-la de Presidente; mas contento em dizer: minha trabalhadora e honesta Prefeita. Mulher que olha para os pobres com olhos plácidos e piedosos! Quantas vezes se candidatar, saiba que terás o meu voto; e dos meus familiares também. Conte conosco".
O projeto dos barracos e a verba para a implantação dos mesmos foram aprovados pelo governo Federal, na época militares, à 50 anos passados.
Os filhos do casal se abstiveram da palavra. Todavia, não é mistério na comunidade do Amola Faca que o mais novo é processador e refinador de "farinha" pura. Montara um verdadeiro tecnológico no fundo da casa de seus pais para apurar a matéria brura.
O mais velho, por sua vez, não teve tanta sorte, mas às duras penas, conseguiu especializar-se como vendedor do produto processado pelo irmão mais novo. Pela pontualidade de servir a tempo e à hora; rapidez na entrega; cordialidade e fino trato, ficou tão conhecido pela clientela, que chamam-o de Rei do Papelote.
Já os outros três, sendo duas moças, não foram indultados, por isto, não participaram das festividades em família. Espera-se pois, que eles sejam liberados através de Habeas Corpus expedido pelo advogado, que também é membro da família. Justifica o nobre profissional das leis, que é ato discriminatório seus clientes terem que usar tornozeleira eletrônica; escreve ainda que a maneira que liberam os detentos vai contra o conceito de cidadania, infringe o ir e vir estabelecido no direito adquirido de todo e qualquer cidadão, não havendo portanto, meios legais e institucionalizados para o uso de tal objeto em ocasiões indultivas, fato que os envergonha e os expõe diante da sociedade.
Como faz parte dos abastados, o eminente doutor não estivera presente à comemoração, mas pelo visto, faz seu dever com seriedade, comprometimento e apreço pela retidão em nome do engradecimento dos Santos Silva.