Premio Letal

Apostava em tudo. Briga de galo; número de dentes na boca de defunto. Chegou jogar porrinha - palitinho - por vídeo conferencia. Ultimamente estava inscrito em mais de 20 consórcios. 10 deles envolviam mulheres. Sorteado, foi contemplado com uma, apenas uma bala de revólver calibre 38 na testa.

Desistiu de aposrtar em tudo, inclusive na vida. Nossos pesames a familia.

2018

Despertei em sobressalto com os estouros de rojões. Olhei pela janela e algumas nuvens estavam desfalecidas no ocaso. Flores procuravam a lua e cães uivavam de medo. Uma coruja agourenta piou no galho seco da arvoré que fica em frente ao meu quarto. Morcegos passeiam à procura de ceia líquida.

Passo a mão na imagem do santo que protege-me e correndo ele pelo meu corpo, me benzo dos pés à cabeça. Aciono o botão on do televisor e ouço que em lugares distantes eu já não existia. Sem pestanejar, desliguei a praga malidicente e tapei os ouvidos para a arruaça que vinha de fora; que em vez de chorarem, faziam festa. Sorriam. Tafuei a cabeça debaixo dos cobertores. Calor infernal.

Impaciente e tomado pelo pânico, levantei. Fui à cozinha e lá encontro animais mortos estirados nas formas.

Antes de jogar água nos olhos para desfazerem as pelotinhas brancas de ramela, confabulei com meu espelho. Ele pouco disse; todavia, após golfar-lhe uma baforada de ar com a boca, fato que enevoou-o todo, pressenti que ainda havia vida em meu ambiente. Assim como eu, neste noite lúgubre, muitos irão. Voltei para a cama; e em questão de minutos, cobriram meus olhos com muitas pás de terra fria. Junto vieram algumas pedras que atingiam minhas faces em cheio; berrava, embora não dessem ouvidos para os meus clamores. Em verdade vos digo que não queria mais viver; 365 dias, ou 365 multiplicado por 3600 s é tempo demais para um ser solitário no mundo.

Eu fui, mas levei muita gente comigo. Findado o reboliço, tudo voltou à normalidade. Penso que só queriam meu esquife. Difícil romper com a cultura enraizada; fruticando em uma humanidade estranha e para ela, o ápice do gozo é a desgraça alheia.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 15/12/2018
Reeditado em 07/02/2019
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