Visitas Inesperadas I
Passei parte da noite trancafiado no quarto. A certa altura da madrugada, o desarranjo estomacal obrigou-me dar um pulo, fazer uma visita inesperada a latrina que fica contíguo a casa. Nem bem abri a porta da cozinha e a caravana de pernilongoos passou zunindo por mim.
Revoltado, um deles vociferou: "nao vai ficar assim, nao. Deixou-nos dormindo ao relento. Aguarde que a fatura já foi imprimida. Assim que apagar as lamparinas, candeeiros e lampioes, saberás o quanto custa uma amizade nao valorizada." Mas eu sei por que da fúria da tropa: na noite anterior, um deles desgarrou da súcia e dando sopa rente á parede, dei-lhe uma chinelada bem em seu focinho: plá; deixando-o pregado e a marca de sangue sinalizando sua morte.
Com as calças arriadas até os joelhos, a barriga revoltosa e com uma folha de mamona na mao limpando o ventre, pensei: "como é difícil agradar Zés e Manés"! Assustado e com medo que o pior acontecesse, amanheci na praça junto com os bebados e caes.
Pernilongos sao covardes e só atacam em bando e no escuro. Um a um, no mano a mano, tapa a tapa, detono todos. Se tem a coisa que detesto, é covardia; e mesmo sabendo que irei sofrer as consequencias com minha mulher no outro dia, nao fica um!