O ÚLTIMO TREM
 
 
 
Vestido com uma longa túnica negra, o homem atravessou o estreito corredor entre as fileiras de assentos, entregando os jornais numerados aos passageiros. A vida dos ocupantes do trem estava impressa naquelas páginas. E a viagem marcaria não apenas o confronto, mas o fim da história vivida por eles.

O peso do silêncio tomara conta do vagão quando alguém soltou uma sonora gargalhada. Todos olharam para trás: na última poltrona, um sujeito lia entusiasmado. Ao notar tantos olhares em sua direção, o fulano disse, apontando para uma charge no jornal:

— Este aqui é o Diário da Cidade. Comprei lá na banca. Sabe como é, estava tão distraído que peguei o trem errado.

Um dos passageiros — matador de aluguel — retrucou, antes de desferir um golpe fatal no pescoço do sujeito:

— Ninguém entra aqui por engano.



 
 
(*) IMAGEM: FOTO / VIVIAN MAIER
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 03/11/2015
Reeditado em 07/11/2015
Código do texto: T5436597
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